Ano: 2018 | Editora: Raw 'N' Roll Rex, Ring Leader, Regulator Records, Ragingplanet | Review por: L.P.
Por paradoxal que tal possa parecer, Anarquia-Violência é ao mesmo tempo o mais incisivo e limpo que o metal punk dos Systemik Viølence já soou.
Por paradoxal que tal possa parecer, Anarquia-Violência é ao mesmo tempo o mais incisivo e limpo que o metal punk dos Systemik Viølence já soou.
É interessante constatar a origem de dois dos samples incluídos em Anarquia-Violência. Logo no tema-título temos a voz de Anthony Fantano, conhecido pelo seu canal de YouTube (essa pequena subsidiária que a Google comprou por uns milhares de milhões de dólares), ao passo que em Ego-Sistema temos o quase-niilismo resignado de Mr. Peanutbutter, personagem da série BoJack Horseman com distribuição pelo também pequeno Netflix. É, no entanto, uma constatação inconsequente e, se a adornámos de sugestões de cumplicidade com o sistema que a banda tanto ataca – veja-se Crapitalism com a repetida imagem do trabalhador com a corda ao pescoço e apropriado sample de um discurso de Howard Beale em Network –, apenas o fizemos para criticar tal interpretação. Atribuir os podres de um sistema a qualquer forma de expressão que use meios desenvolvidos no mesmo tresanda à pureza ideológica de um totalitário. Para além disso, a frase do Fantano enquadra-se perfeitamente no continuado mostrar de espelho à cena que os Systemik Viølence têm vindo a encetar desde Fuck As Punk (Punk Is Posers e The Gentle Art Of Pissing People Off), enquanto que no segundo tema referido, a sugestão de que a vida não tem significado inerente e que mais vale encontrá-lo na espuma dos dias está na base da obsessão pelo ego que nele atacam.
Há uma outra constatação possível perante Anarquia-Violência, essa sim consequente, que diz respeito à forma como os Systemik Viølence reagiram à mudança de formação que viu o guitarrista Andy Onahōru ser substituído pelo baixista Zëusu Bäsuku e J. Yagi passar do baixo para a guitarra. Em primeira análise, nada mudou. O som da banda continua fielmente ancorado no punk hardcore cru de há várias décadas atrás, particularmente no Japonês (riff inicial de Male Dumbinance) e no Sueco (Ego-Sistema), sem no entanto descurar um certo pendor para tendências metálicas da mesma altura, como fica claro tanto pelo primeiro riff do disco como pelos laivos de speed metal na supracitada Male Dumbinance.
Se é verdade que no geral nada mudou, seria um desserviço ao disco resumir assim a sua análise, importando referir que graças à mistura de Sérgio Prata Almeida (Don't Disturb My Circles), Anarquia-Violência soa francamente limpo em comparação não só com os discos dos anos 80 que tanto influenciam o quarteto – como seria de esperar tendo em conta a lei de Moore e trinta anos de progresso tecnológico – como com o que os próprios Systemik Viølence fizeram anteriormente, ou o que essas bandas fazem hoje em dia (é ver o Död Åt Kapitalismen dos Asocial). Este acréscimo de limpeza não retirou contundência ao som da banda, revelando-se até mais apropriado para manter a mesma em momentos como Male Dumbinance em que o subtil aumento de complexidade de riffs e solos assim o exige.
No fundo, é um EP em que os Systemik Viølence mostram ser capazes de progredir em termos de som deixando a sua característica atitude intacta, facto que naturalmente constitui boas notícias.
Há uma outra constatação possível perante Anarquia-Violência, essa sim consequente, que diz respeito à forma como os Systemik Viølence reagiram à mudança de formação que viu o guitarrista Andy Onahōru ser substituído pelo baixista Zëusu Bäsuku e J. Yagi passar do baixo para a guitarra. Em primeira análise, nada mudou. O som da banda continua fielmente ancorado no punk hardcore cru de há várias décadas atrás, particularmente no Japonês (riff inicial de Male Dumbinance) e no Sueco (Ego-Sistema), sem no entanto descurar um certo pendor para tendências metálicas da mesma altura, como fica claro tanto pelo primeiro riff do disco como pelos laivos de speed metal na supracitada Male Dumbinance.
Se é verdade que no geral nada mudou, seria um desserviço ao disco resumir assim a sua análise, importando referir que graças à mistura de Sérgio Prata Almeida (Don't Disturb My Circles), Anarquia-Violência soa francamente limpo em comparação não só com os discos dos anos 80 que tanto influenciam o quarteto – como seria de esperar tendo em conta a lei de Moore e trinta anos de progresso tecnológico – como com o que os próprios Systemik Viølence fizeram anteriormente, ou o que essas bandas fazem hoje em dia (é ver o Död Åt Kapitalismen dos Asocial). Este acréscimo de limpeza não retirou contundência ao som da banda, revelando-se até mais apropriado para manter a mesma em momentos como Male Dumbinance em que o subtil aumento de complexidade de riffs e solos assim o exige.
No fundo, é um EP em que os Systemik Viølence mostram ser capazes de progredir em termos de som deixando a sua característica atitude intacta, facto que naturalmente constitui boas notícias.