Ano: 2018 | Editora: ragingplanet | Review por: Guilherme Lucas
“Todo o trabalho de Montedor é primoroso. Desde cada um dos seus temas, bem como dos seus respetivos arranjos; inclusive dos crescendos emocionais, feitos momentos arrebatadores, finalizando na produção e consequente masterização, que é de assinalável qualidade”.
“Todo o trabalho de Montedor é primoroso. Desde cada um dos seus temas, bem como dos seus respetivos arranjos; inclusive dos crescendos emocionais, feitos momentos arrebatadores, finalizando na produção e consequente masterização, que é de assinalável qualidade”.
Existe por vezes, embora de forma muito rara, um certo tipo de discos que, movido apenas pela curiosidade sobre o nome dos seus autores – na maior parte das vezes apenas porque se lê algures, de forma esparsa, uma referência positiva sobre estes – me levam a dar como ganho parte do meu tempo em escutar atentamente os seus trabalhos discográficos, na peregrina expetativa de poder encontrar nestes uma boa surpresa que me faça ganhar as horas e os dias.
No meu método urgente em que uma primeira audição aleatória e rápida é o suficiente para perceber se um trabalho merece ou não o tempo de ser escutado uma segunda ou mais vezes, percebi, quase que de imediato, que o primeiro trabalho de FERE, de nome Montedor é um caso sério de enorme qualidade dentro do nosso meio underground.
Todo o trabalho de Montedor é primoroso. Desde cada um dos seus temas, bem como dos seus respetivos arranjos; inclusive dos crescendos emocionais, feitos momentos arrebatadores, finalizando na produção e consequente masterização, que é de assinalável qualidade. Estamos, portanto, diante de um disco maior, para que se perceba desde já. Daqueles que provavelmente perdurarão no tempo, dentro do seu género.
Se os FERE se inserem musicalmente dentro do espectro post-rock, quero crer que, sem abdicar dessa tipologia sonora, conseguem, por razões meramente composicionais, ir algo mais além. Até mesmo dentro das tipologias mais doom que encontramos, a espaços, durante a audição deste trabalho, estas são consistentemente elegantes, remetendo-nos para paisagens extremamente cinemáticas e de grande intensidade emocional.
Porque é igualmente toda uma estética meticulosamente trabalhada e executada que está também em causa, e por isso mesmo, em análise, deixamo-nos deslumbrar, desde a parte gráfica de Montedor, passando pela parte referencial e simbólica de cada um dos sete temas que constituem o álbum, acabando na própria imagem física/estética da banda. Percebe-se no final que a conjugação de todos estes fatores resulta num trabalho muito bem estruturado e conseguido… mas também de um coletivo que, para além deste seu primeiro álbum, aparenta ter um projeto deveras interessante, a ser escutado e escrutinado nos tempos futuros por qualquer amante de boa música, independentemente de géneros musicais.
Montedor é uma vasta área junto ao mar, situado algures na orla costeira de Viana do Castelo, de topologia granítica e que inspirou o nome para este álbum dos FERE. É também onde o mar se funde com a ideia de negritude e de dor, um local assombrado de lendas e mistérios, e que o disco nos revela de forma apaixonante e vibrante. A conjugação de Monte e Dor não é, por isso, mero acaso.
Bárbara, o tema que abre o álbum - precisamente com o som de trovões ao longe - é a padroeira das tempestades. Este é um tema com um ritmo inicial extremamente forte e com um riff de guitarra de enorme bom gosto. Há a seguir toda uma parte mais serena que evolui para uma intensidade galopante, remetendo para alguma sonoridade dos australianos Hungry Ghosts, e que é de bastante agrado, pois os FERE conseguem soar a algo similar, mas à sua maneira.
O segundo tema, de nome Fundo, é todo ele ritmicamente intenso, havendo um muito interessante trabalho de guitarras de fundo que remetem, qual mergulho, para a vida e os seus mistérios, em lugar da morte.
Algae, o terceiro tema, refere-se à criação, à vida, no seu sentido literal de primeira célula. É um tema inicialmente lento e melancólico, contemplativo, mas que vai aumentando de intensidade acompanhado de um excelente trabalho de guitarras, com riffs soberbos e uma melodia soturna de contornos épicos. Um dos melhores temas do álbum.
Em Areia, que se refere ao tempo, ao infinito, ao incontável e ao que nos habituamos, encontramos um trabalho composicional igualmente forte, muito no seguimento dos anteriores.
Naufrágio, o quinto tema, é paradoxalmente o contrário do que possamos pensar. Refere-se à mudança, e a tudo o que deixamos para trás e que queremos apenas que fique retido como mera lembrança fossilizada, presente na eternidade. É o tema mais ambiental de Montedor na sua parte inicial, resvalando, para o final, para um sofisticado andamento a meio tempo, com solos que são surf obscuro, a passo de doom.
Segue-se Pontus. Este refere-se a uma entidade mitológica, antes das clássicas, criador das águas, dador da vida e da morte. É o grande tema do álbum; a pérola que mais se destaca. Se a composição em si parece estar inicialmente dentro do mesmo andamento e intensidade dos seus antecessores, esta evolui rapidamente para um soberbo trabalho de guitarras, simplesmente brilhante. A parte final, completamente doom, é dos momentos mais intensos que tenho memória de escutar em trabalhos musicalmente similares. É algo planante, psicadélico, extremamente obscuro, catapultando-nos para uma velocidade mentalmente vertiginosa. Uma peça muito bem composta e trabalhada em todos os pormenores, é, definitivamente, o grande momento deste trabalho.
Montedor encerra o álbum, tal qual uma faixa fantasma, escondida. É de intensidades diversas, remetendo, através do seu andamento final, qual entrada num vórtex do tempo, para algo que parte, para uma distância incalculável… a busca de algo indefinível e eventualmente inatingível. Diria que uma forma misteriosa e perfeita de encerrar o álbum.
Montedor foi feito para ser escutado e interpretado de forma livre e ao sabor do gosto de cada um; é um trabalho que escalpeliza emoções, sem uma mensagem clara ou objetiva por parte da banda, mas com uma cativante profundidade à qual certamente ninguém ficará indiferente ao escutar com a atenção devida. Fundamental.
No meu método urgente em que uma primeira audição aleatória e rápida é o suficiente para perceber se um trabalho merece ou não o tempo de ser escutado uma segunda ou mais vezes, percebi, quase que de imediato, que o primeiro trabalho de FERE, de nome Montedor é um caso sério de enorme qualidade dentro do nosso meio underground.
Todo o trabalho de Montedor é primoroso. Desde cada um dos seus temas, bem como dos seus respetivos arranjos; inclusive dos crescendos emocionais, feitos momentos arrebatadores, finalizando na produção e consequente masterização, que é de assinalável qualidade. Estamos, portanto, diante de um disco maior, para que se perceba desde já. Daqueles que provavelmente perdurarão no tempo, dentro do seu género.
Se os FERE se inserem musicalmente dentro do espectro post-rock, quero crer que, sem abdicar dessa tipologia sonora, conseguem, por razões meramente composicionais, ir algo mais além. Até mesmo dentro das tipologias mais doom que encontramos, a espaços, durante a audição deste trabalho, estas são consistentemente elegantes, remetendo-nos para paisagens extremamente cinemáticas e de grande intensidade emocional.
Porque é igualmente toda uma estética meticulosamente trabalhada e executada que está também em causa, e por isso mesmo, em análise, deixamo-nos deslumbrar, desde a parte gráfica de Montedor, passando pela parte referencial e simbólica de cada um dos sete temas que constituem o álbum, acabando na própria imagem física/estética da banda. Percebe-se no final que a conjugação de todos estes fatores resulta num trabalho muito bem estruturado e conseguido… mas também de um coletivo que, para além deste seu primeiro álbum, aparenta ter um projeto deveras interessante, a ser escutado e escrutinado nos tempos futuros por qualquer amante de boa música, independentemente de géneros musicais.
Montedor é uma vasta área junto ao mar, situado algures na orla costeira de Viana do Castelo, de topologia granítica e que inspirou o nome para este álbum dos FERE. É também onde o mar se funde com a ideia de negritude e de dor, um local assombrado de lendas e mistérios, e que o disco nos revela de forma apaixonante e vibrante. A conjugação de Monte e Dor não é, por isso, mero acaso.
Bárbara, o tema que abre o álbum - precisamente com o som de trovões ao longe - é a padroeira das tempestades. Este é um tema com um ritmo inicial extremamente forte e com um riff de guitarra de enorme bom gosto. Há a seguir toda uma parte mais serena que evolui para uma intensidade galopante, remetendo para alguma sonoridade dos australianos Hungry Ghosts, e que é de bastante agrado, pois os FERE conseguem soar a algo similar, mas à sua maneira.
O segundo tema, de nome Fundo, é todo ele ritmicamente intenso, havendo um muito interessante trabalho de guitarras de fundo que remetem, qual mergulho, para a vida e os seus mistérios, em lugar da morte.
Algae, o terceiro tema, refere-se à criação, à vida, no seu sentido literal de primeira célula. É um tema inicialmente lento e melancólico, contemplativo, mas que vai aumentando de intensidade acompanhado de um excelente trabalho de guitarras, com riffs soberbos e uma melodia soturna de contornos épicos. Um dos melhores temas do álbum.
Em Areia, que se refere ao tempo, ao infinito, ao incontável e ao que nos habituamos, encontramos um trabalho composicional igualmente forte, muito no seguimento dos anteriores.
Naufrágio, o quinto tema, é paradoxalmente o contrário do que possamos pensar. Refere-se à mudança, e a tudo o que deixamos para trás e que queremos apenas que fique retido como mera lembrança fossilizada, presente na eternidade. É o tema mais ambiental de Montedor na sua parte inicial, resvalando, para o final, para um sofisticado andamento a meio tempo, com solos que são surf obscuro, a passo de doom.
Segue-se Pontus. Este refere-se a uma entidade mitológica, antes das clássicas, criador das águas, dador da vida e da morte. É o grande tema do álbum; a pérola que mais se destaca. Se a composição em si parece estar inicialmente dentro do mesmo andamento e intensidade dos seus antecessores, esta evolui rapidamente para um soberbo trabalho de guitarras, simplesmente brilhante. A parte final, completamente doom, é dos momentos mais intensos que tenho memória de escutar em trabalhos musicalmente similares. É algo planante, psicadélico, extremamente obscuro, catapultando-nos para uma velocidade mentalmente vertiginosa. Uma peça muito bem composta e trabalhada em todos os pormenores, é, definitivamente, o grande momento deste trabalho.
Montedor encerra o álbum, tal qual uma faixa fantasma, escondida. É de intensidades diversas, remetendo, através do seu andamento final, qual entrada num vórtex do tempo, para algo que parte, para uma distância incalculável… a busca de algo indefinível e eventualmente inatingível. Diria que uma forma misteriosa e perfeita de encerrar o álbum.
Montedor foi feito para ser escutado e interpretado de forma livre e ao sabor do gosto de cada um; é um trabalho que escalpeliza emoções, sem uma mensagem clara ou objetiva por parte da banda, mas com uma cativante profundidade à qual certamente ninguém ficará indiferente ao escutar com a atenção devida. Fundamental.