"Fast Eddie Nelson é exatamente o que a cena alternativa portuguesa precisa neste momento."
Review por: António Pereira
Review por: António Pereira
Há que dizê-lo: Fast Eddie Nelson é exatamente o que a cena alternativa portuguesa precisa neste momento. Num meio completamente embriagado por cocktails de revivalismos psicadélicos e misturas indie/new wave/post-sabe-se-lá-o-quê que todos os dias crêem ter reinventado a roda, é bom ver que ainda há ao fundo da rua um tascozinho aberto onde podemos ir relaxar, ouvir uns blues, beber um belo dum bagaço e passarmos um bom bocado sem que a pobre cabeça esteja sempre a andar a mil à hora. Venha então o Roots Run Deep, quarto álbum de estúdio de Fast Eddie Nelson. E já agora mais um bagaço, se fizer favor.
Lançado em Julho deste ano, Roots Run Deep traz-nos uma injeção de blues rock cru e enérgico como só o guitar slinger do Barreiro sabe fazer, baseado em riffs sebosos a piscar o olho a um George Thorogood ou a um Johnny Winter (ou a contemporâneos do "novo classic rock" como os Kadavar), solos com fartura e uma voz com gravilha suficiente para fazer uma pista de WRC. São sete temas de mangas arregaçadas e whiskey à mesa de cabeceira (mais duas bónus, incluindo uma interpretação de slide na mão da "Come Together" dos Beatles, que transforma o clássico britânico num brutamontes do Tennessee), simples, diretos ao assunto e, mais importante de tudo, que não caem no erro de se levarem demasiado a sério. O pessoal está aqui é para se divertir, e, quando assim é, até um solo de kazoo cai bem (não, a sério, o primeiro tema, "Big Bad Mama", inclui um solo de kazoo). Quem conhece Fast Eddie Nelson sabe que não há, nem tem de haver, grandes berloques sonoros nem filosofias profundas subjacentes à sua música; Dêem-lhe uma guitarra para as mãos e um microfone, ponham-lhe um baterista e um baixista ao lado (e se não houver, um bombo no pé chega bem), e pronto: está o festario armado. E muito sinceramente, que mais é preciso?
Ainda assim, Roots Run Deep denota uma intenção do Fast Eddie Nelson de variar um pouco as coisas, ir um pouco mais além do que havia feito anteriormente. As músicas deste álbum, ainda que em essência mantenham aquela crueza característica, surgem vestidas com uma produção muito mais robusta e polida (para o que também contribuiu bastante a adição de um baixo à formação), e a própria decisão de gravar um álbum mais rockeiro em formato trio significa um afastar das raízes bluegrass que sempre influenciaram a música de Eddie Nelson: em vez de músicas dominadas pelo slide, há agora mais pedal de wah wah, e até a National Resonator, a famosa guitarra acústica prateada ao lado da qual Fast Eddie Nelson trouxe, há alguns anos atrás, o country blues dos EUA para Portugal, desta vez ficou na caixa. A reta final do álbum, com “Stomp My Feet” e “Road So Cold”, ainda traz de volta o lado mais intimista e one man band de Eddie Nelson, mas este é um álbum claramente orientado para o rock n roll mais mexido.
E nesse aspeto, Roots Run Deep brilha com uma energia absolutamente contagiante - é impossível não haver rebuliço ao som de temas como "This Mountain" ou "Tear It Down" - vem-nos imediatamente à cabeça uma cena à From Dusk 'Till Dawn, com o Fast Eddie a tocar num bar sarroso enquanto garrafas voam pelo ar e pessoas são arremessadas por cima de mesas. Sem dúvida que, no futuro, um regresso ao blues old-school será bem-vindo; no entanto, por agora estamos muito bem assim.
Com Roots Run Deep, Fast Eddie Nelson não demonstra apenas ser o embaixador do blues que a música portuguesa talvez nunca mais tenha tido depois do Rui Veloso - ele é uma verdadeira garrafa de oxigénio, num lugar onde o ar já mal se consegue respirar, saturado como está de sintetizadores e experimentalismos. Mas é claro que, se lhe disséssemos isto ele rir-se-ia, retorquindo que apenas faz o que gosta, e o resto é conversa. Pois bem, que continue a fazê-lo por muitos mais anos.
Agora alguém que diga ao pobre homem para que lado é a saída da montanha, por amor de Deus.
Lançado em Julho deste ano, Roots Run Deep traz-nos uma injeção de blues rock cru e enérgico como só o guitar slinger do Barreiro sabe fazer, baseado em riffs sebosos a piscar o olho a um George Thorogood ou a um Johnny Winter (ou a contemporâneos do "novo classic rock" como os Kadavar), solos com fartura e uma voz com gravilha suficiente para fazer uma pista de WRC. São sete temas de mangas arregaçadas e whiskey à mesa de cabeceira (mais duas bónus, incluindo uma interpretação de slide na mão da "Come Together" dos Beatles, que transforma o clássico britânico num brutamontes do Tennessee), simples, diretos ao assunto e, mais importante de tudo, que não caem no erro de se levarem demasiado a sério. O pessoal está aqui é para se divertir, e, quando assim é, até um solo de kazoo cai bem (não, a sério, o primeiro tema, "Big Bad Mama", inclui um solo de kazoo). Quem conhece Fast Eddie Nelson sabe que não há, nem tem de haver, grandes berloques sonoros nem filosofias profundas subjacentes à sua música; Dêem-lhe uma guitarra para as mãos e um microfone, ponham-lhe um baterista e um baixista ao lado (e se não houver, um bombo no pé chega bem), e pronto: está o festario armado. E muito sinceramente, que mais é preciso?
Ainda assim, Roots Run Deep denota uma intenção do Fast Eddie Nelson de variar um pouco as coisas, ir um pouco mais além do que havia feito anteriormente. As músicas deste álbum, ainda que em essência mantenham aquela crueza característica, surgem vestidas com uma produção muito mais robusta e polida (para o que também contribuiu bastante a adição de um baixo à formação), e a própria decisão de gravar um álbum mais rockeiro em formato trio significa um afastar das raízes bluegrass que sempre influenciaram a música de Eddie Nelson: em vez de músicas dominadas pelo slide, há agora mais pedal de wah wah, e até a National Resonator, a famosa guitarra acústica prateada ao lado da qual Fast Eddie Nelson trouxe, há alguns anos atrás, o country blues dos EUA para Portugal, desta vez ficou na caixa. A reta final do álbum, com “Stomp My Feet” e “Road So Cold”, ainda traz de volta o lado mais intimista e one man band de Eddie Nelson, mas este é um álbum claramente orientado para o rock n roll mais mexido.
E nesse aspeto, Roots Run Deep brilha com uma energia absolutamente contagiante - é impossível não haver rebuliço ao som de temas como "This Mountain" ou "Tear It Down" - vem-nos imediatamente à cabeça uma cena à From Dusk 'Till Dawn, com o Fast Eddie a tocar num bar sarroso enquanto garrafas voam pelo ar e pessoas são arremessadas por cima de mesas. Sem dúvida que, no futuro, um regresso ao blues old-school será bem-vindo; no entanto, por agora estamos muito bem assim.
Com Roots Run Deep, Fast Eddie Nelson não demonstra apenas ser o embaixador do blues que a música portuguesa talvez nunca mais tenha tido depois do Rui Veloso - ele é uma verdadeira garrafa de oxigénio, num lugar onde o ar já mal se consegue respirar, saturado como está de sintetizadores e experimentalismos. Mas é claro que, se lhe disséssemos isto ele rir-se-ia, retorquindo que apenas faz o que gosta, e o resto é conversa. Pois bem, que continue a fazê-lo por muitos mais anos.
Agora alguém que diga ao pobre homem para que lado é a saída da montanha, por amor de Deus.
Setlist: 1. Big Bad Mama (Coming To Town) 2. Blues Walking Like a Man 3. This Mountain 4. Come Home 5. Tear It Down 6. Stom My Feet 7. Road So Cold (Bónus) 8. Dancin' In The River 9. Come Together (cover Beatles) | |