Texto: Tomás Marques
Fotos: Marta Louro
Foi ao doom pesado dos Process of Guilt que coube a honra de abrir o festival. Ainda com o recinto pouco preenchido a banda de Évora fez tremer os presentes, com a competência a que tem habituado o público e deixando “água na boca” para quem anseia o seu novo trabalho “Black Earth”, a sair já no fim do próximo mês.
De Amesterdão chegavam os The Charm The Fury que se apresentaram pela primeira vez em Portugal, intercalando poderosos guturais com refrões bem melódicos e muitos breakdowns. Apesar de algo atípico, o público foi correspondendo aos vários apelos da banda que fez um esforço incansável para captar a atenção de todos os presentes.
Após uma alteração no horário, foi a vez de os Névoa e o seu black metal inaugurarem o “palco” secundário do festival (ou pelo menos uma tentativa de palco). Com “Re Un” na bagagem, demonstraram mais uma vez ao vivo toda a sua qualidade bem patente neste último álbum, um dos melhores lançamentos do ano transato. Um som poderoso onde se destaca a percussão bem como o vozeirão que acompanha a música, carregada de uma atmosfera sombria e hipnótica. Sem dúvida, uma banda cujo espetáculo seria bem mais apreciado sem o forte sol que se fazia sentir.
Ao fim da tarde subiam ao palco os Insomnium, banda em destaque no último ano após o lançamento de mais um excelente álbum. Mesmo com o calor que se fazia sentir, a banda finlandesa conseguiu atrair toda a plateia para os portões do seu inverno. “Winter´s Gate”, o último álbum da banda, catapulta-os definitivamente para o topo. Um som elaborado e muito bem conseguido, alternando riffs esmagadores com transições calmas com belas melodias. Toda a genialidade do álbum é posta em prática com muita mestria ao vivo, resultando sem dúvida num dos melhores concertos de todo o festival.
Pelo número de camisolas envergadas pelo público com as mais diversas referências aos Epica é fácil arriscar que a banda holandesa era a mais aguardada da noite. Com “The Holographic Principle” na bagagem, os Epica mostraram como dar um excelente concerto, aliando de forma muito eficaz o jogo de luzes e fogo com o som sinfónico muito próprio da sua música. É impossível não fazer referência à irrepreensível voz de Simone Simons, carismática vocalista da banda sempre acompanhada nos refrões das mais variadas músicas pelo público com o qual é evidente a grande relação de cumplicidade. De destacar ainda a atitude ativa de toda a banda, contribuindo sempre para que um concerto de Epica seja um grande momento. Para terminar da melhor maneira, a banda anunciou o regresso a Portugal já no fim deste ano.
De regresso ao “palanque” secundário, era a vez dos The Black Wizards, uma das novas bandas em grande destaque na cena stoner nacional. Com a voz inconfundível da vocalista Joana Brito e com o seu som característico, este concerto foi uma lufada de ar fresco após a música mais pesada praticada por todos os outros intervenientes do dia. É com bastante expectativa que o novo álbum da banda a sair já em setembro (ao qual se seguirá uma tour europeia) é aguardado. Um coletivo que promete muito neste campo musical, pouco representado no VOA.
Chegava a vez de uma das mais importantes bandas do metal extremo. Ao som da intro “1985” que serve de abertura ao seu último álbum, os Carcass subiram ao palco para uma hora de destruição. Dos primeiros álbuns, que marcaram toda uma geração e que foram pioneiros na formação do grindcore, até ao mais recente “Surgical Steel”, passando ainda pelos clássicos da década de 90, Jeff Walker e companhia não dão sinais de abrandar. Com a mesma audácia, qual bisturi com precisão cirúrgica, que tocam o Death ‘n’ Roll de “Keep on Rotting In the Free World”, interpretam temas rapidíssimos como “Cadaver Pouch Conveyor System”. A nível negativo, de referir apenas o set incrivelmente curto para uma banda cabeça de cartaz e que terminou de forma algo abrupta. Depois da também curta passagem pela mesma cidade aquando da Deathcrusher Tour, este concerto voltou a saber a pouco para os muitos fãs da banda.
Também negativo e praticamente inadmissível é que, em pleno mês de Agosto, com as temperaturas que se fazem sentir durante a tarde a ultrapassar muitas vezes os 30 graus, não existam locais com sombra no recinto do festival. Enquanto o sol teimava em não se esconder, muita gente tentou escapar ao calor abrasador atrás das roulottes da alimentação ou até junto às vedações da casa de banho. Já do lado positivo temos a música: foi um dia recheado de bons concertos com bandas dos mais variados espectros da música pesada.