Texto: Joana Ribeiro
Fotos: Daniel Sampaio
Goldenpyre era seguramente das bandas mais ansiadas, pelo seu significado na história do Barroselas. Os irmãos Veiga, fundadores do festival, integram ambos este colectivo, que fez o seu regresso este ano com o lançamento de um novo álbum, pondo fim a uma inactividade de mais de 10 anos. Um concerto memorável, com um público muito reactivo e a demonstrar bem o apreço por esta banda tão especial, e no qual participaram alguns convidados, entre os quais Filipe Castro, antigo vocalista da banda. Prosseguimos para a fastidiosa actuação de Dead Congregation, que o que teve de mais marcante foi mesmo a bíblia a arder em palco. Tudo isto foi compensado por Darvaza, logo a seguir, uma descarga de black metal blasfemo e cheio de ódio. Até lhes perdoamos o vocalista com mau feitio, que passou o concerto todo em atitude de picardia com elementos do público, tendo até atirado com uma cerveja que lhe ofereceram. É parte da persona, pronto: não se oferece mais bebida ao homem.
Seja-se ou não fã, a verdade é que era impossível não ficar arrebatado com o concerto que Venom Inc. nos proporcionaram. Independentemente do nicho do metal de que eram originários, muitos eram os que se acotovelavam em frente ao palco na expectativa de ver e ouvir a lendária banda – com uma ligeira alteração no nome e na formação, vá. A verdade é que essas questões técnicas em nada afectaram a histeria colectiva que se fez sentir às primeiras notas de “Rip and Ride”, e partir daí foi um debitar constante de clássicos: “Live Like An Angel, Die Like a Devil”, “Welcome To Hell”, “Don’t Burn The Witch” e, evidentemente, “Black Metal”, que nem lhes perdoávamos se não a tocassem e que lançou o derradeiro caos no pit, concorrido e de boa saúde durante todo o concerto. Pelo meio ficaram apelos à irmandade dentro do metal sem olhar a géneros, pois esta é uma linguagem universal – e gostamos de acreditar que esta genuína empatia e fraternidade convenceram até o mais carrancudo e elitista dos presentes. Melhor concerto do festival?
Nashgul é o equivalente musical de uma chapada com as costas da mão. Chega a ser aterradora a sua presença em palco, e no entanto os corajosos do costume lá vão subindo ao dito cujo, para experienciar uma daquelas vociferações mesmo nas trombas. O grindcore irado dos galegos parece deixar os que assistem mais de perto possuídos e é mesmo de notar que este concerto foi particularmente difícil de fotografar, tendo em conta a bagunça instalada nas primeiras filas que tornava quase impossível chegar perto do palco. Oranssi Pazuzu serviu para acalmar um pouco, talvez até demais – uma grande parte dos presentes parecia desinteressada do concerto. Suspeitamos que a culpa não se prenda com a prestação da banda em si e sim com os constrangimentos técnicos que não permitiram que o seu som complexo e ímpar chegasse até nós como devia ser; num recinto tão grande, acabou por perder-se grande parte da magia. Uma pena, pois esta era das bandas para as quais trazíamos maiores expectativas.
O festim gore com os Grog não ficou abaixo do que esperávamos de uma das bandas mais antigas e respeitadas em Portugal na música extrema, mas deparámo-nos com uma multidão um pouco mais parada do que seria de esperar. E já não tínhamos visto aquele baixista em algum lado? – era o mesmo de Enlighten, que voltou a sobressair pela sua técnica.
Que os efeitos da idade já sejam visíveis e metade das letras vá para o tecto não é minimamente importante quando olhamos para o todo deste espectáculo. Falamos dos Extreme Noise Terror, banda seminal do crust que fechou o palco principal nesta noite. Qualquer falha que tenham tido, compensaram-na com a constante comunicação com o público, e ao tocarem malhas tão incontornáveis como “Work For Never” ou “Raping The Earth” (esta com a participação de Ricardo Silva, vocalista de Holocausto Canibal) estamos tão extasiados por estarmos a ouvi-las ao vivo que nem queremos saber de potenciais falhas. Uma lição de punk à antiga que mostra que o nome da banda ainda lhes assenta. Por falar em punk à antiga, tivemos os Systemik Violence a fechar a noite: de antigos não têm nada, mas o seu som é reminiscente da longínqua altura em que o punk os tinha no sítio. Provocadores profissionais – segundo os quais não só o Barroselas é merda, como tudo é merda, e nós, como não podia deixar de ser, também somos merda – investiram o seu som rápido, directo e sem floreados na nossa direcção, despoletando um imediato bailarico punk. Se achamos ou não piada à imitação de GG Allin que lidera os Systemik Violence fica ao critério de cada um, mas também não nos parece que ele se importe muito.
Tinha começado a cair uma chuva intensa que ia transformando o piso em lama e voltar ao acampamento não era convidativo – as odes à embriaguez de Alcoholocaust pareciam um plano muito melhor. Fazendo rodopiar cabeças e entornar finos com o seu speed/blackened thrash, constituíram o final perfeito para esta noite, e os mais resistentes ainda terão rumado à “Tasca Infernal”, onde se prolongaram os festejos noite dentro.