Texto: Pedro Limão
Fotos cedidas por: Bruno Pereira
No “Dia 0”, dia da receção ao campista, já depois dos festivaleiros se instalarem numa mata muito perto da famosa praia de Moledo, tivemos o warm-up, composto unicamente de bandas nacionais. A primeira parte deste aquecimento situou-se no Paredão 476 com as atuações de Jesus The Snake e Chaos Ritual e finalizou-se, já a iniciar a madrugada, com Desert Mammoth e Mr. Mojo no Ruivo’s Bar.
Depois de um bom aquecimento e de uma manhã de praia (ou de sono para muitos), o SonicBlast passa para o Pool Stage a uma hora nunca antes vista: o primeiro concerto teve início às 13:30. Ainda o almoço estava a ser digerido quando Bar de Monjas deram início ao 1º dia desta edição, mostrando que tanto o “Fuzzonaut” (split com Vinnum Sabbathi) como o “In Fuzz We Trust”, não são apenas bons em vinil (principalmente o “In Fuzz We Trust”, que é o foco das atenções ao vivo). O auge do concerto foi quando tocaram “Under” e “Hell of a ...” músicas cheias de riffs poderosos vindos do espaço a soar a fuzz, e que fizeram o público pensar o porquê desta banda estar a abrir o palco piscina e não o Main Stage.
Seguiu-se Holy Mushroom, com malhas muito mais psicadélicas e arrastadas do que a banda anterior. Começou a formar-se um ambiente muito mais solto no festival, com os mergulhos na piscina a chapinhar tudo e todos e o recinto da piscina a ficar apinhado e cheio de toalhas. Talvez este tenha sido o clímax do palco piscina, pois quando estes soltaram a “The river of all your desires” havia uma certa magia que se vivia ao longo da relva, da piscina e do 1º andar que tinha uma vista privilegiada para o palco. Era a guitarra e o soar de pratos da bateria do cogumelo sagrado a fazerem efeito.
Depois de um concerto que relaxou toda a gente, veio o momento dos primeiros portugueses do dia mostrarem o seu valor e assim o fizeram. Os It Was The Elf vieram acordar o público com os riffs cheios de distorção e de energia que já conhecemos. Mesmo só tendo um álbum gravado, já mostraram ser uma banda de grande qualidade: não há uma música do Fire Green que não fique no ouvido e a energia que se sente em palco é empolgante. Quem assistiu a este concerto teve ainda o prazer de ouvir “Nature’s Son”, música que irá ser incluída num próximo projeto anunciado pela banda.
E aqui entram os Stone Dead, muito falados ultimamente por causa do seu novo álbum, Good Boys. À partida, o público já só podia esperar um concerto diferente e um pouco deslocado do contexto em que se encontrava, pois apesar do The Stone John Experience ter uma onda muito stoner/heavy rock, Good Boys não o tem. O que aconteceu de facto foi essa “exclusão”, que depois de concertos bastante puxados para o psicadélico/stoner rock, Stone Dead tiveram um sabor a punk rock e a rock’n’roll. Outro fator que influenciou a atuação foi a voz, que não parece a mesma ao vivo, depois de ouvida a versão de estúdio.
O concerto que fechou o palco piscina (e talvez o concerto mais esperado até então) foi o de Black Bombaim e ao escrever isto ainda penso “Depois das muitas vezes que já os vi e elogiei, que hei eu de dizer desta vez?”, mas, apesar dessas muitas vezes, nunca os vira desta maneira. Para além da presença de um saxofonista que parecia estar permanentemente em modo jam, o “trio” (que desta vez era um quarteto) fascinou o público de tal maneira que a única reação ao fim de todo aquele espetáculo foi a de acordar para a realidade, como se tivéssemos estado todos num sonho. Uma atuação que, de tão psicadélica e extasiante que foi, nos hipnotizou do início ao fim.
Para surpresa do público, The Great Machine, o trio israelita que veio substituir Kadavar e dar início aos concertos no palco principal, deram um concerto cheio de energia e de emoção. Para além de cativarem o público com uma pujança incrível, ao iniciar “South West Sugar Rush”, pediram ao público que se sentasse, e o público, já com o concerto a acabar e depois de tudo o que já tinham dado e recebido, obedeceu. Uma mudança de cenário marcante tanto para o público como para a banda, tão bem recebida nesta passagem repentina por Portugal.
Para dar seguimento à viagem, os The Well vieram com tudo na sua estreia em palcos portugueses. Talvez este tenha sido o concerto em que o público pensou “a coisa agora ficou séria”. A abarrotar adrenalina, tocaram malhas que foram do doom ao psicadélico. Em títulos como “Trespass” e “Mortal Bones” (ambos do seu primeiro albúm, “Samsara”) vemos uma grande ligação a Salem´s Pot (banda que fez parte da edição anterior do SonicBlast), não só na voz cheia de distorção mas também nos riffs que deslizavam pela guitarra de Ian. O concerto acabou de uma maneira bastante bonita, com “The Eternal Well”, encerrando a atuação de uma forma bastante melancólica mas altamente cativante.
Os primeiros suecos da noite a entrar em órbita foram os Yuri Gagarin. Com um som bastante característico, marcado por um sintetizador carregado de efeitos e por solos espaciais, os suecos rebentaram com a seita de humanos que se encontrava naquele recinto, devastando tudo e todos com o seu space rock progressivo. Levaram o público à loucura com “At The Center Of All Infinity” e “The New Order”, músicas carregadíssimas de uma energia alienígena.
Já depois de o público estar com os pés bem assentes na terra, foi a vez de viajar com Kikagaku Moyo. A banda japonesa, já conhecida em solos nacionais, veio mais uma vez trazer um ambiente angelical, com a presença de uma cítara elétrica que fazia vibrar a plateia. Num misto de vibrações exóticas, psicadélicas e de kraut, a hora e meia que fora dada aos japoneses passou num ápice, destacando-se “Smoke and Mirrors”, “Kodama” e “Kogarashi”, de uma beleza sobrenatural.
Depois do quinteto asiático, Moledo contou com a presença de um concerto colossal. Foi a vez de Monolord, muito provavelmente o concerto mais pesado do festival. Encantaram a plateia com um conjunto de riffs pesadíssimos e de um baixo que parecia berrar de agonia. Poucas palavras existem mais para descrever a matança que ali aconteceu: foi esmagador e “Empress Rising” finalizou a atuação de uma maneira brilhante.
Findada esta performance executada na perfeição, os espectadores já nada sabiam o que esperar. Foi então que os Elder vieram destruir o que ainda havia para destruir. Com álbum novo a fazer dois meses, o conjunto americano justificou a sua presença enquanto cabeça de cartaz do festival. “Gemini”, “Sanctuary” e “Compendium” foram as malhas que deram ênfase à estreia nacional da banda.
Depois de todas estas atuações, a plateia encontrava-se arrasada mas, mesmo assim, ainda houve barriga para The Cosmic Dead, que, no sentido literal do nome, vieram trazer uma morte cósmica aos ouvintes de Moledo com o seu rock psicadélico, cansados mas cativados pelo seu som, terminando da melhor forma o primeiro dia do festival.