Texto: Joana Ribeiro
Fotos: Daniel Sampaio
Devidamente aquecidos, demos as boas vindas a Process Of Guilt, numa sala ainda mais cheia do que ao início da noite. Cenário fácil de explicar: sem full-lengths desde 2012, apenas com o split com Rorcal em 2014 para tirar a barriga de misérias, e com a agravante de que as visitas ao Porto são raras, a enchente para ver PoG com novo trabalho já era esperada. O acabadinho de sair do forno “Black Earth” não surpreende apenas na medida em que marca a continuidade da qualidade do trabalho da banda. Também a vibe continua a mesma: música para quem está meio enojado por caminhar sobre a terra, acompanhado por um presságio semi-dormente mas à espreita em cada verso, desembocando aqui e ali em descargas de peso de fazer tremer as paredes. Arriscamos dizer que este álbum é ainda mais pesado e arrastado que o que o antecede, mas sem cair na mesmice. Se em estúdio sempre conseguiram enganar a monotonia, mais difícil é consegui-lo ao vivo: já houve alturas em que constatámos alguma dificuldade por parte de Process of Guilt de agarrar o público durante o tempo completo de uma actuação, o que é justificável pela lentidão e longa duração das músicas, que aliadas ao próprio ambiente dificultam a tarefa de manter a tensão criada. Mas esse não foi, de todo, o caso desta vez, com uma das maiores adesões por parte do público que testemunhámos num concerto de PoG. O movimento uniforme do mar de cabeças pela sala confirmava que o público acolhia o novo álbum de braços abertos; de tão responsivos que estavam, dir-se-ia que já o tinham na prateleira há uns anos e que o conheciam de trás para a frente. Continua a ser difícil arranjar um tema à altura de “Faemin” (que não lhes perdoaríamos se não o tocassem, e assim fizeram, já na recta final) no que diz respeito à recepção do público, mas este novo álbum parece um forte candidato a desafiar essa tendência e chegámos ao fim do concerto com a sensação de termos passado pela trituradora. Em noite de sludge/doom, é sempre sinal de aposta ganha.