Texto: Tomás Marques e Pedro Limão
Fotos: Rita Limede
Fotos de Legacy of Cynthia e de Prayers of Sanity por Igor Ferreira
Seguiram-se os Prayers Of Sanity originando um tornado, uma amostra das movimentações que o público assumiria até o final do concerto. O trio, oriundo de Lagos, demonstrou o poder do seu thrash a uma plateia já mais composta. Entre os vários temas que tocaram incluíram alguns novos para “abrir o apetite” para o seu novo álbum que será lançado no fim de Abril, trazendo boas notícias para os fãs da banda, pois a velocidade e agressividade característicos do seu thrash permanecem como marca da banda. “Someday” foi o tema escolhido para demonstrar o que poderá ser o sucessor de “Confrontations”, e o público aprovou!
Chegava a vez dos Theriomorphic, já bem habituados a terras moitenses. A banda que se encontra a celebrar 20 anos trouxe até à moita um death metal forte e muito pesado. Após quase 10 anos desde o último álbum da banda, em ano de aniversário ficou prometido o lançamento do seu terceiro EP. Temas como “The Beast Brigade” ou “Absent Light” demostraram a razão pela qual, após duas décadas, esta é uma das bandas mais respeitadas e admiradas do underground nacional.
Para um pequeno intervalo, no que toca ao metal, surgiu a brilhante atuação de Crise Total. Sempre em sintonia com o público que cantava de peito aberto os refrões de temas clássicos como “Queremos Anarquia”. Um grande concerto que espelha o que é o Moita Metal Fest: a união entre vários estilos musicais.
Os Gwydion proporcionaram o único concerto de folk metal do festival. Foi uma verdadeira festa, um concerto eloquente que se pode considerar como um dos melhores concertos destes dois dias. Com um som irrepreensível os Gwydion trouxeram alegria ao público moitense, expressa através de um mosh festivo que proporcionou variadas danças feitas em sintonia por um público sorridente. Foi tanta a potência desta banda que a luz “foi abaixo” obrigando-os a um fim algo precipitado. Agora com um line-up estabilizado aguardamos ansiosamente pelo lançamento de um novo álbum.
Finalmente chegava a hora dos tão esperados Napalm Death. Depois de uma passagem por Corroios, em 2015, aquando da Deathcrusher Tour, onde tocaram um set bastante curto, o regresso da banda era entusiasticamente esperado.
O concerto começou com a intro do seu último álbum. Estes cerca de 4 minutos de “Apex Predator – Easy Meat” são os únicos momentos de um concerto de Napalm Death em que os presentes têm oportunidade para descansar. Esta intro bem repetitiva, estilo mantra, funciona muito bem ao vivo, representa uma espécie de mudança de chip para o caos que se segue. “Evolved as One” deu o mote a este concerto. Caos é a melhor palavra para descrever o que o grindcore/death metal de Napalm Death provoca, muitas vezes ainda não tinham arrancado os poderosos riffs da guitarra e já se assistia a um mosh imenso. Mark “Barney” em excelente forma, com a voz perfeita e com as suas movimentações algo “esquizofrénicas” em palco, criava e enaltecia todo este ambiente de loucura caótica. Os britânicos, que não contaram com umas das suas mais carismáticas figuras, o baixista Shane Embury, visitaram vários dos seus álbuns, como “Scum”, “Harmony Corruption” e, naturalmente com maior destaque, o último saído em 2015: “Apex Predator-Easy Meat”. Num abrir e fechar de olhos houve ainda tempo para “You Suffer”.
Poucas palavras são necessárias para falar de uma banda como esta, pioneira do metal extremo e que ainda proporciona momentos fantásticos ao tocar covers de bandas marcantes na sua carreira como os Offenders, Hirax e o já clássico “Nazi Punks Fuck Off” dos Dead Kennedys.
Chegavam assim ao fim os concertos do 1º dia do festival. Pela noite dentro podíamos contar ainda com Jó dos Theriomorphic a passar música para os mais resistentes.
Dia 2
Coube aos Enblood abrir o segundo dia do festival. Já com algumas pessoas a assistir, o jovem grupo presenteou o público com um death metal de linha melódica. Um excelente arranque da banda de Almada que demonstrou sempre uma grande vontade ao tocar.
Para continuar o aquecimento chegaram de outro planeta os The Zanibar Aliens. Talvez tenham pensado que aterraram no festival errado, mas não, o Moita é mesmo assim, há espaço para todos os estilos e gostos. Com o seu rock psicadélico com claras influências dos mestres Deep Purple e Led Zeppelin, o quinteto demonstrou toda a sua qualidade técnica. Os presentes corresponderam, mostrando o seu entusiasmo para com o concerto.
Seguiram-se os Burn Damage. “Damage” foi realmente a palavra de ordem. Inês Freitas é dona de uma voz poderosa capaz de arrebatar qualquer plateia. O concerto foi uma excelente amostra de bom death/groove metal. Destacamos temas do álbum “Age of Vultures” como “Acid Rain” ou temas novos como “Fire Walk With Me”.
Fast Eddie Nelson, com um convidado especial nas teclas, entraram em palco, tal como os Zanibar Aliens, com a sensação de estarem em território alheio, mas rapidamente se mostraram à vontade, proporcionando uma atuação muito boa tocando um rock com um toque de blues que aparentou não ter travões.
Chegava a vez dos Analepsy. Os comandantes do slam/brutal death metal nacional fizeram estalar a Moita com uma atuação demolidora. Com um álbum novo - “Atrocities From Beyond” - que tem recebido excelentes criticas, elas ficaram bem espelhadas na atuação da banda. Depois de “Dehumanization by Supremacy”, o primeiro álbum da banda, demonstra bem toda a sua potência e qualidade e o porquê de serem presença assídua em grandes festivais do estilo (atuam este verão no Deathfeast Open Air, por exemplo). Para o fim deixaram “Genetic Mutations”, tema que já se tornou uma espécie de hino da banda, com a já habitual presença de Sérgio Afonso de Bleeding Display no palco. Foi a forma perfeita de terminar estes 40 minutos de “destruição” e arrebatamento do público com a sua música e espetáculo.
Heavy metal épico é o que podemos esperar de um concerto de Attick Demons e é certo que há poucos em Portugal capazes de fazer melhor. “Let’s Raise Hell”, o último álbum da banda, foi muito bem recebido por toda a sua legião de fãs. Há que destacar a fantástica voz de Artur Almeida, a bateria galopante de Ricardo Oliveira e os riffs das guitarras com um toque de Iron Maiden e Manowar. Mais um excelente concerto com um som fenomenal.
Já a chegar à hora de jantar, subiram ao palco os Primal Attack para apresentar “Heartless Opressor”, o seu mais recente trabalho discográfico. Depois de em 2015 terem apresentado no mesmo festival “Humans”, a atuação deste ano demonstra bem a sua evolução. Sempre muito animados e com um som pujante, conseguiram cativar todos os presentes.
De Coimbra chegaram os Midnight Priest com o seu heavy metal da velha guarda. Sem limites de velocidade e com os agudos bem acentuados deram um concerto que obedecia às leis do metal que se propõem tocar. Cabedal, correntes e um público mais uma vez fantástico que, juntamente com Lex Thunder, entoou vários dos temas da banda.
Seguiram-se os Revolution Within, umas das maiores bandas do underground nacional. O álbum “Annihilation”, lançado no ano passado, provou a quem tinha dúvidas a qualidade desta banda. Quanto ao concerto deram ao público aquilo a que já está habituado: um concerto cheio de “raça” com riffs em pico e com uma energia única. O já característico “wall of death” fez, como habitual, parte do concerto desta banda. Como era de esperar, Hugo Andrade, organizador do festival e vocalista dos Switchtense, subiu ao palco para “puxar o gatilho”. Aqueles que preferiram o clássico Benfica-Porto podem bem arrepender-se de terem perdido momentos como estes.
O único concerto de black metal do festival ficou a cargo de Corpus Christii, uma das grandes bandas do black metal nacional. Eram cerca das 22 horas quando assistimos ao ritual da banda que irá lançar “Delusion” este mês. O pouco que é conhecido relativamente ao álbum já nos deixa entusiasmados em relação ao sucessor de “PaleMoon”, um dos melhores álbuns do ano de 2015. Atuação marcada pela qualidade da banda sempre com a sua teatralidade característica, “All Hail” Corpus Christii.
Da Holanda chegava um nome forte da cena hardcore, os No Turning Back que acabam de editar um novo álbum: “ No Time to Waste”. Na bagagem esta banda trouxe um monte de energia que atirou ao público, com um concerto explosivo do início ao fim. A primeira música trouxe de imediato movimentações no pit com o tão controverso crowd kill. Mesmo para quem não aprecia o estilo, o concerto dos No Turning Back impressiona qualquer um. Este concerto contou com a sempre solicitada colaboração dos fãs, que constantemente recebiam o microfone das mãos do energético Martijn van den Heuvel. A pedido deste foi ainda feito um gigante circle pit que deu a volta a toda a tenda, sem dúvida um dos momentos altos desta edição.
Pelo número de camisolas alusivas à banda, os Heavenwood eram um dos grupos mais esperados da noite. Este concerto contou com Miguel Inglês, dos Equaleft, na voz, que se encontra temporariamente a substituir Ernesto Guerra. No passado ano de 2016 os Heavenwood demostraram estar numa excelente fase da carreira ao lançar “The Tarot of the Bohemians” que foi muito aclamado pela crítica internacional e corroborado pelos sucessivos concertos de promoção ao álbum. Com muita experiência, o concerto alternou entre temas do já velhinho “Diva” - como “Frithiof´s Saga” - passando pelo álbum “Swallow” e, claro, pelo seu último lançamento onde destacamos temas como “The Juggler”. Não há dúvidas que o seu som é único e especial. Todo o trabalho gráfico à volta da banda não deixa ninguém indiferente, tornando-os tão apetecíveis ao público. São estes vários fatores que tornam os Heavenwood uma banda tão querida ao público.
Chegava o concerto mais aguardado de todo o festival. Os gigantes do thrash teutónico regressavam a Portugal para um concerto que prometia ser avassalador. Uma banda como Sodom dispensa apresentações.
“Decision Day”, o seu último álbum, deixou “descansados” aqueles que podiam preocupar-se com o avançar da idade dos seus elementos, mas o trio alemão continua a fazer o que melhor sabe: thrash metal, não fossem eles uma das grandes referências do género. Para abrir as hostes foi escolhida a música “In Retribution” do recente álbum, o que foi suficiente para incendiar os fãs, que iniciaram um mosh de grandes proporções. O concerto foi um autêntico desfile de clássicos com “In War and Pieces”, “Napalm in The Morning”, “M-16”, “City of God” e, claro, “Agent Orange”. Houve ainda tempo para uma homenagem a Lemmy com a interpretação do tema “Iron Fist” dos Motörhead. Após “Remember the Fallen”, “Ausgebombt” foi o tema escolhido para encerrar aquele que foi certamente o melhor concerto do festival. Com um som perfeito, estes três velhotes tocam como se estivessem no auge da sua juventude, sincronizados e sem falhas e com um vocalista, Tom Angelripper, que se encontra num estado fantástico. O público que não parou por um segundo muito contribuiu para o sucesso desta atuação, e terminou assim mais um Moita Metal Fest. Dois dias com excelentes concertos e num recinto fantástico capaz de responder a todas as necessidades. Aguardamos ansiosamente pela próxima edição.