Texto: Paulo Fadigas
Fotos: João Fonseca
O “TIO” chegou e disse: "A Vida é hoje.. Amanhã logo se vê". E assim começaram os lisboetas HPS – iniciais para Hard Punk Spirit – que a dada altura confundiram o público menos conhecedor da banda quando Vítor Libânio anunciou a música “HPS - Hoje Perdi os Sapatos”. Sempre com o sarcasmo e a revolta presentes na letras de “Coca-Cola Furiosa”, “É ou não é” ou “Tubérculo Fedorento” (dedicada aos tatuadores), o quinteto conseguiu cativar e animar o público presente.
No registo mais calmo do dia, Carlos Bzzz, João Cantão (ambos ex-EAK e Gordura) e José Soares (ex-As They Come) apresentaram Maxila e a sua primeira maqueta intitulada “Demo”. Com o seu rock/sludge metal, guitarradas arranhadas, bateria intensa e um baixo distorcido como manda a lei, o trio de S. João da Madeira provocou um murmurinho de comentários e reações positivas por entre o público que estava presente e os desconhecia, público este maioritariamente a preferir manter-se nas sombras e não em frente ao palco.
E foi então que o cenário mudou. O calor foi posto de parte e o chamamento dos The Year foi correspondido em massa com uma plateia mais composta, com headbangs sincronizados, refrões a plenos pulmões, e os primeiros sinais de moshpits no metalcore de temas como “Full Damage”, “Sweaty Palms”, Slaves’r’us” ou “Bastion”, apesar dos pequenos problemas de som que se fizeram notar no início, tanto para o público como em palco, mas que rapidamente foram resolvidos.
Não deixando arrefecer os ânimos, os HochiminH mostraram que nem todo o pessoal do Alentejo é “parado, paradinho”. A presença em palco já característica foi correspondida com crowdsurfs (inclusive do vocalista João Ramos) e circlepits que levantaram o pó ainda adormecido do recinto, com o metalcore industrial dos seus temas, não deixando de parte a já habitual cover dos Depeche Mode, “Enjoy the Silence”. A presença dos bejenses no Casainhos 2019 ficou marcada como tendo sido o último concerto do baterista e membro fundador da banda, João Pina.
Nuno Rodrigues e companhia não se deixaram ficar atrás, descarregando toda uma energia contagiante com as sonoridades dos W.A.K.O. e todo um peso de vozes e instrumentais de death/groove metal influenciados desde 2002 por bandas como Lamb Of God, Textures, ou Meshuggah. Apesar da qualidade de som que passava para o público estar meio “embrulhada” e com falta de definição dos instrumentais em certas músicas, este reagiu positivamente e em uníssono à energia humana que do palco emanava. A altura bastante considerável do palco, o fosso dos fotógrafos, e o comprimento de cabo do microfone não foram barreiras para que o vocalista Nuno se juntasse aos presentes no recinto.
A temperatura começava a baixar, o público a aumentar, e os dinamarqueses Hatesphere subiram a palco, sendo a primeira das duas bandas estrangeiras presentes na edição deste ano. Com uma interação constante, problemas de som exterior resolvidos, e uma insaciável secura (aos chamamentos pelo nome da banda, a própria respondia “CERVEJA!”) uma hora de thrashalhada nórdica pura, dura e crua, onde houve tempo ainda para um modesto wall of death aquando da participação especial de Rui “Raça” Alves, vocalista dos Revolution Within.
Pela terceira vez num festival do Casainhos (2015, 2017, 2019), os Devil in Me mobilizaram a multidão para a frente do palco logo aos primeiros acordes da sua atuação, não se fazendo notar qualquer cansaço provocado pelas atuações anteriores. Entre temas de 2005 e referências às diferentes mentalidades e heterogenia de géneros musicais presentes no evento com “On My Own”, os lisboetas ainda brindaram o público com uma nova música, “Celebration”, que reflete dois anos menos bons do grupo, e que fará parte do novo álbum.
Com pouco mais de 20 minutos de atraso em relação ao previsto, e um recinto bastante preenchido a chamar por eles, os Tara Perdida começaram com alguns problemas em palco logo com a sample de introdução. Apesar da qualidade de som para o público não ter sido das melhores em alguns temas, este não se fez rogado reagindo mais efusivamente nos cânticos dos clássicos do que nos temas mais recentes. “Lambe Botas” ainda teve um cheirinho a instrumental de “Raining Blood” no inicio, “Batata Frita” fez-se acompanhar por wall of death, e “Lisboa” inevitavelmente com homenagem a João Ribas.
Encarregues de fechar o cartaz, os espanhóis Angelus Apatrida atuaram para um público bastante reduzido por não conseguir suportar o forte vento gélido que se fazia sentir por volta das 01:30h. Os resistentes fizeram a festa, sempre incentivados pelo vocalista Guillermo Izquierdo e o seu irmão José J. Izquierdo (baixista) ao som das malhas de thrash metal da banda que conta já com quase 20 anos de existência, e que fizera parte do cartaz do Casainhos em 2015.
A edição do 2019 do CASAINHOS ficou marcada pelas significativas melhorias da organização na parte da disposição do sistema de som (apesar da dificuldades que foram surgindo durante o dia), uma vez que comparativamente com o ano passado todo o sistema de som direcionado para o público se encontrava em palco e este ano passou para uma estrutura nas laterais do mesmo.
Menos bom, e sem responsabilidades do festival, foram as baixas temperaturas e o vento intenso que se fez sentir mais para o inicio da noite. Talvez tenha sido esse o motivo pelo qual o T-Rex de Fanhões não tenha aparecido no recinto este ano.
Em suma, e ao longo destas 8 edições, o Casainhos tem demonstrado uma enorme vontade de se tornar cada vez mais uma referência na senda dos festivais metal de Verão low cost, dando sempre primazia ao que por cá se faz nas mais diversas sonoridades em terras lusas. “Hats off!”