Numa curta mas recheada carreira, Guilherme Henriques já realizou videoclips para mais de duas dezenas de bandas em vários países dentro e fora da Europa. Aproveitámos o lançamento de "Tormento", segundo vídeo que realizou com os conimbricenses Destroyers of All, para falar deste e dos seus restantes trabalhos.
Um email endereçado aos Belphegor em 2014 viria a lançar uma carreira que originou videoclips para Wormed, Noctem, Colosso e tantas outras bandas. Entre elas contam-se também os Destroyers of All que, completamente satisfeitos com o videoclip de "Hate Through Violence", voltaram a contactar o realizador para um novo trabalho. Num exclusivo Portuguese Distortion, partilhamos um pequeno "behind the scenes" desta relação banda-realizador.
Como é que acabaste por trabalhar no primeiro videoclip de Destroyers of All?
Acho que foi algo bastante natural. A malta de Destroyers andava a seguir os meus trabalhos e o Guilherme Busato contactou-me algum tempo depois a propor-me trabalhar com eles num clip para promover o lançamento do primeiro álbum, "Bleak Fragments".
Em que medida é que este segundo vídeo é diferente?
Tudo é diferente neste novo video. Começa pela musica em si e acaba no tipo de linguagem visual que optámos seguir. Uma das coisas que mais me cativou a fazer este projecto foi o tema e conceito da musica em si. É a alma de Coimbra retratada por artistas da região e o resultado é sublime. O tema tem uma alma bastante própria e tão bela ao mesmo tempo. Contracenando com esse aspecto, decidimos optar por uma linguagem mais experimental, obscura e negra. É um aspecto que também a musica tem e todas as filmagens fluíram de forma bastante natural.
Como é que negoceias as ideias para os vídeos com as bandas?
Bem, tudo começa como tem de começar: com um bom brainstorming de ideias à volta do conceito, letras e álbum da banda em questão. Depois de anotadas e organizadas todas as ideias e quadros interessantes ao projecto, escrevemos um argumento e depois de tudo isto há que planear toda a logística do video. Basicamente é toda a parte chata que ninguém gosta de fazer mas que, se não for pensada, vai tudo por água abaixo. Contudo, nunca forço uma ideia ao artista. Temos sempre de oferecer diversas ideias e vários planos que funcionem para o caso de algo não ir em contra com os planos ou visões do músico. Entrar de pés juntos com uma só ideia possível e aniquilar quaisquer outras visões do mesmo tema é a pior forma de começar uma relação de trabalho que durará meses. Como disse antes, não há nada como centenas de emails daqui para lá, reuniões por Skype e tudo o que seja necessário até a ideia funcionar para toda a gente. Claro que, enquanto realizador do video, cabe-me a mim decidir o que funciona visualmente porque é esse o meu trabalho. As componentes estéticas e técnicas do projecto são da minha inteira responsabilidade e tenho que zelar por aquilo que imagino quando ouço a música. Tudo isto para te dizer que o produto final é o resultado de um trabalho de meses mas acima de tudo um trabalho de um conjunto que remou para o mesmo lado. Costumo dizer que a Arte é o perfeito balanceamento da diversão e da seriedade. Um pouco mais de uma delas pode ser fatal.
Como é que escolhes o local, o cenário, toda a componente visual?
Confesso que depende de projecto para projecto, mas grande parte desse trabalho parte de mim e a banda ou equipa de produção continua-o. Depois de termos o argumento escrito certamente já há uma imaginação daquilo que poderá ser o espaço de rodagem. Quando trabalhei com os Belphegor e visto que toda a rodagem foi feita em Portugal, eu mesmo fiz o trabalho de repérage e tudo se conduziu para serem mais de 200 km percorridos em 2 dias de filmagem. Parece uma loucura mas às vezes só assim podemos atingir o que delineámos para o clip. Com os Netherbird, por exemplo, os locais foram todos escolhidos pela banda, visto que filmámos todo o videoclip no Satan’s Democracy, uma instalação artística num antigo edifício de escritórios no centro de Estocolmo. A componente visual parte de mim, normalmente. Parte das minhas referências, influências e principalmente dos devaneios que tenho à medida que a vida acontece. É muitas vezes nos detalhes e pequenos acontecimentos da nossa vida que vamos buscar a matéria para as nossas ideias.
Alguma dificuldade maior durante estas gravações específicas, ou episódios anteriores que queiras partilhar?
Sempre que me fazem essa pergunta ocorre-me o episódio que foram as gravações na Dinamarca com os Heidra! Estive em Copenhaga com eles cerca de 2 semanas em que todos os dias foram necessários para fazermos a repérage, obter licenças de voo para o drone, fazer estudos de maquilhagem para os actores, etc. Contudo, depois de tanto planeamento, acabámos por dividir as filmagens em dois dias em que ninguém dormiu e em que decidimos filmar em Mohle, na Suécia e em Mons Klint, na Dinamarca. Foi até hoje a produção mais difícil em que estive! Caminhámos cerca de 4km em trilhos de hiking com dois actores com mais de 100kg. Íamos morrendo! No fim, é um dos trabalhos de que mais me orgulho. Adoro o resultado final e faria tudo outra vez porque valeu a pena.
Em termos de equipamento, o que costumas usar?
O meu equipamento tem vindo a sofrer várias mudanças ao longo deste último ano. Comecei com material Canon, mas rapidamente fiz a melhor transição da minha vida que foi para o mundo das câmaras Blackmagic. Não vou entrar em grandes batalhas quanto às minhas escolhas e por que razão acho esta companhia a melhor. Simplesmente "suits me best”, seja pelo controlo que tens na pós-produção, pelo dynamic range e pelo tipo de cor que uma Blackmagic oferece. Em matéria de luzes, lentes e ambientes, tudo depende do trabalho em si. Tenho algumas lentes analógicas e outras EF.
Acabaste as filmagens. O que falta fazer?
Bem, agora segue-se todo o trabalho de sincronização de imagens com o áudio, escolha dos melhores momentos, edição de cada uma dessas partes e após isso terei uma primeira versão do produto final para mostrar à banda. Com este clip de Destroyers of All incluí o videomapping, uma das minhas áreas de interesse e em que trabalho há já algum tempo. Será o segundo video que realizo que contará com projecções dentro das filmagens e o resultado tem sido bastante positivo.
Fotos: Guilherme Henriques e Catarina Rocha