Escolhas bem sóbrias por parte de um dos porta-estandartes do party grind nacional.
1. Faith no More - King for a Day... Fool for a Lifetime (1995, Slash Records)
Este é, sem dúvida, o disco que mais ouvi na vida. Comprei-o em Vila Real, quando frequentava o 12º ano e tem-me acompanhado, de forma bastante presente, desde aí.
Encapsular os Faith no More num estilo ou definir, em poucas palavras, aquilo que eles representam é uma tarefa hercúlea. Juntar uma das melhores vozes da nossa era à mais sólida secção rítmica do espectro rock/alternativo/extremo já é garantia de um resultado (mais do que) positivo. Pensemos ainda num teclista com séria apetência para melodias (e composições) excêntricas e num guitarrista que, no caso deste álbum, é “só” uma das minhas maiores referências artísticas, tendo, depois deste disco, desenvolvido projectos como os Secret Chiefs 3, Faxed Head ou a editora Web of Mimicry (rampa de lançamento de bandas como os Estradasphere ou os Sleepytime Gorilla Museum).
Os fãs mais acérrimos da banda tendem a apontar o Angel Dust como o pináculo criativo do grupo de São Francisco. Eis algumas das razões para eu gostar "um bocadinho mais" deste King for a Day:
* Há mais variedade composicional. A seguir a uma radiofónica (e passou q.b. nas rádios nacionais) Evidence, levamos com The Gentle Art of Making Enemies - um dos temas mais fortes da carreira do grupo. E depois há bossa nova, metal, música de cabaret, pop rock, gospel e jazz. Mas tudo soa a Faith no More e essa habilidade está ao alcance de poucos;
* É neste álbum que o baixo do Billy Gould alcança o equilíbrio perfeito na mistura. Um instrumento sempre forte, crucial no som da banda e com frequentes escapadelas para o lado extremo da “coisa”. Não será inocente a tudo isto o facto de, uns anos antes, o músico se apresentar ao vivo envergando t-shirts de Napalm Death;
* Os teclados são, aqui, mais omnipresentes e a guitarra assume um papel bem mais fulcral do que no passado;
* E, como tal, o fenomenal trabalho de guitarra, executado por um músico acabado de ser convidado para a "nave espacial" (e que saiu pouco depois das gravações). Sim, o Jim Martin será eternamente associado ao alinhamento clássico da banda, mas o Trey Spruance foi aquele que, a meu ver, melhor trabalho deixou para a posterioridade. Catorze inconfundíveis temas que, derrubando inúmeros muros estilísticos, me marcaram de forma bem vincada.
E, não, nem vou falar da voz do Patton...
Este é, sem dúvida, o disco que mais ouvi na vida. Comprei-o em Vila Real, quando frequentava o 12º ano e tem-me acompanhado, de forma bastante presente, desde aí.
Encapsular os Faith no More num estilo ou definir, em poucas palavras, aquilo que eles representam é uma tarefa hercúlea. Juntar uma das melhores vozes da nossa era à mais sólida secção rítmica do espectro rock/alternativo/extremo já é garantia de um resultado (mais do que) positivo. Pensemos ainda num teclista com séria apetência para melodias (e composições) excêntricas e num guitarrista que, no caso deste álbum, é “só” uma das minhas maiores referências artísticas, tendo, depois deste disco, desenvolvido projectos como os Secret Chiefs 3, Faxed Head ou a editora Web of Mimicry (rampa de lançamento de bandas como os Estradasphere ou os Sleepytime Gorilla Museum).
Os fãs mais acérrimos da banda tendem a apontar o Angel Dust como o pináculo criativo do grupo de São Francisco. Eis algumas das razões para eu gostar "um bocadinho mais" deste King for a Day:
* Há mais variedade composicional. A seguir a uma radiofónica (e passou q.b. nas rádios nacionais) Evidence, levamos com The Gentle Art of Making Enemies - um dos temas mais fortes da carreira do grupo. E depois há bossa nova, metal, música de cabaret, pop rock, gospel e jazz. Mas tudo soa a Faith no More e essa habilidade está ao alcance de poucos;
* É neste álbum que o baixo do Billy Gould alcança o equilíbrio perfeito na mistura. Um instrumento sempre forte, crucial no som da banda e com frequentes escapadelas para o lado extremo da “coisa”. Não será inocente a tudo isto o facto de, uns anos antes, o músico se apresentar ao vivo envergando t-shirts de Napalm Death;
* Os teclados são, aqui, mais omnipresentes e a guitarra assume um papel bem mais fulcral do que no passado;
* E, como tal, o fenomenal trabalho de guitarra, executado por um músico acabado de ser convidado para a "nave espacial" (e que saiu pouco depois das gravações). Sim, o Jim Martin será eternamente associado ao alinhamento clássico da banda, mas o Trey Spruance foi aquele que, a meu ver, melhor trabalho deixou para a posterioridade. Catorze inconfundíveis temas que, derrubando inúmeros muros estilísticos, me marcaram de forma bem vincada.
E, não, nem vou falar da voz do Patton...
2. The Beatles - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967, Capitol Records)
Há uns anos, um músico americano meu amigo disse-me: "Os Beatles, tal como os Beach Boys, são daquelas bandas que se ouvem em criança e às quais se regressa, apenas uns bons anos mais tarde, quando se alcança a maturidade para perceber exactamente a amplitude do que eles fizeram".
E, de facto, isso aconteceu comigo. Para alguém nascido no final dos anos 70, era inevitável "levar" com os temas mais populares do grupo, na rádio ou na televisão. Era impossível escapar a canções como a Hey Jude, a Yellow Submarine ou ao proto-pimba da Ob-La-Di, Ob-La-Da. E, mesmo numa fase inicial, em que comecei a aprender a tocar piano, as escolhas óbvias para temas pop passavam pelos Beatles.
Entretanto, surge a adolescência e os ouvidos voltam-se para sonoridades extremas. Até que, já com mais de 30 anos, me volto a apaixonar pelo legado dos "quatro de Liverpool", ao ponto do Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band se ter tornado um dos discos mais especiais da minha discografia.
Estamos a falar de uma banda que tinha o mundo aos seus pés e que, cansada de tanta fama, resolve fazer um disco mais abstracto, mais artístico e que expandia - e de que maneira! - a área de acção dos músicos. Curiosamente, pese embora o cansaço expresso pela banda em relação a tanto sucesso, este acabou por se tornar no disco mais marcante da sua carreira.
Editado em 1967, foi o primeiro álbum da história a ter as letras impressas no inlay e o seu conceito fez os músicos assumirem um alter ego - a Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - e experimentarem técnicas de estúdio - invulgares à época -, que constituiriam doutrina para futuros colossos da música mundial (investigue-se quem era a maior fonte de inspiração dos Queen, em termos de técnicas de produção, por exemplo).
Tudo neste disco era fresco e desafiador - para os cânones da altura, claro: Lucy in the Sky with Diamonds (durante décadas acreditou-se ser uma ode ao LSD), o tema-título ou When I'm Sixty-Four, são casos de estudo na arte de fazer um tema soar pop sem, efectivamente, o ser.
Uma referência obrigatória na minha dieta musical e uma veneração que não escondo.
Há uns anos, um músico americano meu amigo disse-me: "Os Beatles, tal como os Beach Boys, são daquelas bandas que se ouvem em criança e às quais se regressa, apenas uns bons anos mais tarde, quando se alcança a maturidade para perceber exactamente a amplitude do que eles fizeram".
E, de facto, isso aconteceu comigo. Para alguém nascido no final dos anos 70, era inevitável "levar" com os temas mais populares do grupo, na rádio ou na televisão. Era impossível escapar a canções como a Hey Jude, a Yellow Submarine ou ao proto-pimba da Ob-La-Di, Ob-La-Da. E, mesmo numa fase inicial, em que comecei a aprender a tocar piano, as escolhas óbvias para temas pop passavam pelos Beatles.
Entretanto, surge a adolescência e os ouvidos voltam-se para sonoridades extremas. Até que, já com mais de 30 anos, me volto a apaixonar pelo legado dos "quatro de Liverpool", ao ponto do Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band se ter tornado um dos discos mais especiais da minha discografia.
Estamos a falar de uma banda que tinha o mundo aos seus pés e que, cansada de tanta fama, resolve fazer um disco mais abstracto, mais artístico e que expandia - e de que maneira! - a área de acção dos músicos. Curiosamente, pese embora o cansaço expresso pela banda em relação a tanto sucesso, este acabou por se tornar no disco mais marcante da sua carreira.
Editado em 1967, foi o primeiro álbum da história a ter as letras impressas no inlay e o seu conceito fez os músicos assumirem um alter ego - a Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - e experimentarem técnicas de estúdio - invulgares à época -, que constituiriam doutrina para futuros colossos da música mundial (investigue-se quem era a maior fonte de inspiração dos Queen, em termos de técnicas de produção, por exemplo).
Tudo neste disco era fresco e desafiador - para os cânones da altura, claro: Lucy in the Sky with Diamonds (durante décadas acreditou-se ser uma ode ao LSD), o tema-título ou When I'm Sixty-Four, são casos de estudo na arte de fazer um tema soar pop sem, efectivamente, o ser.
Uma referência obrigatória na minha dieta musical e uma veneração que não escondo.
3. Disillusion - Back to Times of Splendor (2004, Metal Blade Records)
A escolha do disco número três acabou por recair sobre o álbum de estreia dos Disillusion, embora com um empate técnico com a ópera rock Jesus Christ Superstar, do Andrew Lloyd Webber e o Contos da Barbearia da Banda do Casaco. Considerando o âmbito deste texto, optei pelo disco dos alemães.
Definir Back to Times of Splendor como Death Metal, será sempre digno de contestação. Parte-se, de facto, de uma base solidificada nesse género, mas a banda incorpora imensos elementos incomuns para o estilo.
Tendo surgido numa altura (2004) em que o namoro entre Death Metal e Rock Progressivo se tornou óbvio, o que mais me atrai neste disco é a forma como, apesar de tantas "misturas", sobram sempre canções. E que canções!
Há algo exótico nestes temas, seja a colocação de voz pouco ortodoxa, as guitarras acústicas ou os teclados subliminares. E depois há uma capacidade técnica intocável, refrões que colam ao cérebro e riffs realmente interessantes!
As canções estão repletas de deliciosos pormenores, intensificados quando apreciados com fones. E o expoente máximo do álbum acontece com o tema-título: 14 minutos de uma viagem épica, que nunca entediam e cujo ambiente é realmente especial. Algo que normalmente só encontro em bandas mediterrânicas, mas num patamar completamente diferente (ou não se tratasse este de um colectivo alemão). Não se pense em Metal Progressivo, mas em Metal Exploratório - sempre com a canção em vista.
Parece-me que os Disillusion nunca vingaram em termos comerciais apenas por serem demasiado arrojados. A prova disso foi o álbum seguinte, intitulado Gloria, que musicalmente não poderia estar mais distante desta estreia - o único ponto em comum são as vozes; o ambiente é industrial e opressivo -, mas constitui-se tão artisticamente relevante quanto o seu antecessor.
Entretanto a banda congelou a sua actividade por quase uma década, tendo voltado este ano aos palcos (e lançamentos).
A escolha do disco número três acabou por recair sobre o álbum de estreia dos Disillusion, embora com um empate técnico com a ópera rock Jesus Christ Superstar, do Andrew Lloyd Webber e o Contos da Barbearia da Banda do Casaco. Considerando o âmbito deste texto, optei pelo disco dos alemães.
Definir Back to Times of Splendor como Death Metal, será sempre digno de contestação. Parte-se, de facto, de uma base solidificada nesse género, mas a banda incorpora imensos elementos incomuns para o estilo.
Tendo surgido numa altura (2004) em que o namoro entre Death Metal e Rock Progressivo se tornou óbvio, o que mais me atrai neste disco é a forma como, apesar de tantas "misturas", sobram sempre canções. E que canções!
Há algo exótico nestes temas, seja a colocação de voz pouco ortodoxa, as guitarras acústicas ou os teclados subliminares. E depois há uma capacidade técnica intocável, refrões que colam ao cérebro e riffs realmente interessantes!
As canções estão repletas de deliciosos pormenores, intensificados quando apreciados com fones. E o expoente máximo do álbum acontece com o tema-título: 14 minutos de uma viagem épica, que nunca entediam e cujo ambiente é realmente especial. Algo que normalmente só encontro em bandas mediterrânicas, mas num patamar completamente diferente (ou não se tratasse este de um colectivo alemão). Não se pense em Metal Progressivo, mas em Metal Exploratório - sempre com a canção em vista.
Parece-me que os Disillusion nunca vingaram em termos comerciais apenas por serem demasiado arrojados. A prova disso foi o álbum seguinte, intitulado Gloria, que musicalmente não poderia estar mais distante desta estreia - o único ponto em comum são as vozes; o ambiente é industrial e opressivo -, mas constitui-se tão artisticamente relevante quanto o seu antecessor.
Entretanto a banda congelou a sua actividade por quase uma década, tendo voltado este ano aos palcos (e lançamentos).