"O grande e grave problema da música moderna portuguesa atualmente, com a honrosa exceção da Antena 3, chama-se rádio."
Entrevista por: Lisandro Jesus
Entrevista por: Lisandro Jesus
Portuguese Distortion - Em 1981 os Táxi fizeram um enorme sucesso na música portuguesa com o primeiro álbum, que vendeu milhares de cópias e passou a ser conhecido como o "primeiro Disco de Ouro do Rock Português. Fala-nos um pouco sobre isso.
João Grande - O nosso primeiro disco, "Taxi" de seu nome, começou a ser composto entre 1978/79, na nossa garagem de ensaios. Foi um trabalho conjunto, ligávamos o gravador no início dos ensaios e, no final ouvíamos para ver se se aproveitava alguma coisa. Em 1980 já tocávamos as novas músicas integralmente nas festas onde íamos tocar, juntamente com outros covers bem conhecidos na altura. É claro que as músicas que tínhamos feito estavam todas em inglês.
Numa dessas festas, mais concretamente no Colégio Alemão do Porto, no final do concerto vieram falar connosco o Tó Zé Brito e o António Avelar Pinho, responsável pela Polygram, que nos quiseram contratar na hora para um disco, mas na condição de ser cantado em português. Depois da minha negação inicial, lá fomos uma semana para Lisboa onde, depois de um trabalho aturado de escrita das novas letras, lá gravamos o nosso disco de estreia, que deu lugar ao primeiro disco de ouro da música moderna portuguesa.
Resta apenas dizer que este sucesso não nos apanhou desprevenidos, uma vez que tínhamos consciência do potencial das músicas, aliado à grande rodagem que tínhamos de estrada.
PD - No ano seguinte repetem o êxito com um novo LP com uma das capas mais míticas da música portuguesa. Como surgiu a ideia da lata na edição do “Cairo”?
JG - Em 1982, e após um ano infernal de concertos, tinha chegado a altura de voltarmos paa a nossa garagem e ligar o gravador. As músicas, desta feita já em português, foram feitas a um ritmo muito mais acelerado, tendo as gravações decorrido durante duas semanas também em Lisboa. Quanto à capa, a célebre lata, foi novamente proposta pela editora, tendo tido de imediato a nossa concordância, uma vez que em Portugal nunca tinha aparecido nada parecido. Resta acrescentar e louvar o trabalho incasável que os empregados da fábrica onde a lata foi feita tiveram, uma vez que não era fácil abril a lata, colocar o disco lá dentro e fechá-la novamente milhares de vezes (risos).
PD – Os Táxi lançaram três discos no espaço de três anos e, se os dois primeiros tiveram um sucesso imediato, o “Salutz”, de 1983, não teve o sucesso esperado. Sentes que a culpa foi da pressão das editoras para fazerem sempre um disco todos os anos?
JG - Quanto ao Salutz, o nosso álbum de originais de 1983, não teve de facto as vendas e o sucesso esperado por dois fatores: O primeiro é que, a nível nacional, todas as vendas começaram a descrescer, e nós não fomos exceção, embora o disco ainda tenha tido vendas superiores a 10.000 unidades. O segundo fator prende-se com a viragem de género musical, ou seja, seguimos uma via mais eletrónica bastante diferente do álbum anterior, uma vez que não era nosso apanágio estarmos sempre a fazer a mesma coisa.
Os concertos mantiveram-se em alto, sendo o novo tema "Sing Sing Club" um dos mais solicitados nesse ano.
PD – Há bem pouco tempo assistimos aos episódios do Documentário “A arte elétrica em Portugal”, nos quais muitas pessoas que não viveram a geração de oitenta mostraram o desconhecimento da rivalidade dos Táxi com os UHF. Queres falar-nos um pouco sobre como surgiu essa rivalidade no início dos anos 80?
JG - Como é óbvio durante a década de 80 tocámos com praticamente todas as bandas nacionais. Com quase todas elas mantínhamos um bom convívio, principalmente com os Heróis do Mar. Mas havia uma que nem sequer os nossos ténicos falavam uns com os outros, que eram os UHF. Entre nós, "nem bom dia nem boa tarde", o que complicava muito a vida dos respetivos managers sempre que tocávamos juntos, uma vez que era quase decidido a moeda ao ar quem tocava primeiro ou quem encerrava o concerto.
Essencialmente, ambos sabíamos que era bandas muito parecidas, com muita garra, já com bastantes anos de estrada e ambos possuíamos PA próprio, o que era muito raro na altura. Hoje em dia, o António Manuel RIbeiro e eu somos bons amigos, tendo-me ele confidenciado que sempre que iam tocar connosco, durante a viagem, ouviam discos nossos. É bonito! (risos)
PD - Para terminar, qual a tua opinião sobre a atualidade do música em Portugal e, mais concretamente, da música rock nacional?
JG - Na minha opinião pessoal, atualmente a música portuguesa está melhor que nunca com nomes de primeira grandeza como o Camané, Ana Moura, António Zambujo, Luísa Sobral, etc.
Quanto à chamada música rock, também está imparável, com o Porto sempre a dar cartas como é o caso dos We Trust, Blind Zero, Azeitonas e o seu fenómero Miguel Araújo, os sempre renovados GNR, sem esquecer os fantásticos Dealema.
O grande e grave problema da música moderna portuguesa atualmente, com a honrosa exceção da Antena 3, chama-se rádio. É muito difícil conseguir entrar para as estações principais, que privilegiam a música estrangeira. E se uma música não passar na rádio ou numa novela, é como se não existisse.
Para acabar, devemos ser o único país no mundo em que, nos três canais principais de TV, não há um único programa semanal dedicado à música, portuguesa ou não.
João Grande - O nosso primeiro disco, "Taxi" de seu nome, começou a ser composto entre 1978/79, na nossa garagem de ensaios. Foi um trabalho conjunto, ligávamos o gravador no início dos ensaios e, no final ouvíamos para ver se se aproveitava alguma coisa. Em 1980 já tocávamos as novas músicas integralmente nas festas onde íamos tocar, juntamente com outros covers bem conhecidos na altura. É claro que as músicas que tínhamos feito estavam todas em inglês.
Numa dessas festas, mais concretamente no Colégio Alemão do Porto, no final do concerto vieram falar connosco o Tó Zé Brito e o António Avelar Pinho, responsável pela Polygram, que nos quiseram contratar na hora para um disco, mas na condição de ser cantado em português. Depois da minha negação inicial, lá fomos uma semana para Lisboa onde, depois de um trabalho aturado de escrita das novas letras, lá gravamos o nosso disco de estreia, que deu lugar ao primeiro disco de ouro da música moderna portuguesa.
Resta apenas dizer que este sucesso não nos apanhou desprevenidos, uma vez que tínhamos consciência do potencial das músicas, aliado à grande rodagem que tínhamos de estrada.
PD - No ano seguinte repetem o êxito com um novo LP com uma das capas mais míticas da música portuguesa. Como surgiu a ideia da lata na edição do “Cairo”?
JG - Em 1982, e após um ano infernal de concertos, tinha chegado a altura de voltarmos paa a nossa garagem e ligar o gravador. As músicas, desta feita já em português, foram feitas a um ritmo muito mais acelerado, tendo as gravações decorrido durante duas semanas também em Lisboa. Quanto à capa, a célebre lata, foi novamente proposta pela editora, tendo tido de imediato a nossa concordância, uma vez que em Portugal nunca tinha aparecido nada parecido. Resta acrescentar e louvar o trabalho incasável que os empregados da fábrica onde a lata foi feita tiveram, uma vez que não era fácil abril a lata, colocar o disco lá dentro e fechá-la novamente milhares de vezes (risos).
PD – Os Táxi lançaram três discos no espaço de três anos e, se os dois primeiros tiveram um sucesso imediato, o “Salutz”, de 1983, não teve o sucesso esperado. Sentes que a culpa foi da pressão das editoras para fazerem sempre um disco todos os anos?
JG - Quanto ao Salutz, o nosso álbum de originais de 1983, não teve de facto as vendas e o sucesso esperado por dois fatores: O primeiro é que, a nível nacional, todas as vendas começaram a descrescer, e nós não fomos exceção, embora o disco ainda tenha tido vendas superiores a 10.000 unidades. O segundo fator prende-se com a viragem de género musical, ou seja, seguimos uma via mais eletrónica bastante diferente do álbum anterior, uma vez que não era nosso apanágio estarmos sempre a fazer a mesma coisa.
Os concertos mantiveram-se em alto, sendo o novo tema "Sing Sing Club" um dos mais solicitados nesse ano.
PD – Há bem pouco tempo assistimos aos episódios do Documentário “A arte elétrica em Portugal”, nos quais muitas pessoas que não viveram a geração de oitenta mostraram o desconhecimento da rivalidade dos Táxi com os UHF. Queres falar-nos um pouco sobre como surgiu essa rivalidade no início dos anos 80?
JG - Como é óbvio durante a década de 80 tocámos com praticamente todas as bandas nacionais. Com quase todas elas mantínhamos um bom convívio, principalmente com os Heróis do Mar. Mas havia uma que nem sequer os nossos ténicos falavam uns com os outros, que eram os UHF. Entre nós, "nem bom dia nem boa tarde", o que complicava muito a vida dos respetivos managers sempre que tocávamos juntos, uma vez que era quase decidido a moeda ao ar quem tocava primeiro ou quem encerrava o concerto.
Essencialmente, ambos sabíamos que era bandas muito parecidas, com muita garra, já com bastantes anos de estrada e ambos possuíamos PA próprio, o que era muito raro na altura. Hoje em dia, o António Manuel RIbeiro e eu somos bons amigos, tendo-me ele confidenciado que sempre que iam tocar connosco, durante a viagem, ouviam discos nossos. É bonito! (risos)
PD - Para terminar, qual a tua opinião sobre a atualidade do música em Portugal e, mais concretamente, da música rock nacional?
JG - Na minha opinião pessoal, atualmente a música portuguesa está melhor que nunca com nomes de primeira grandeza como o Camané, Ana Moura, António Zambujo, Luísa Sobral, etc.
Quanto à chamada música rock, também está imparável, com o Porto sempre a dar cartas como é o caso dos We Trust, Blind Zero, Azeitonas e o seu fenómero Miguel Araújo, os sempre renovados GNR, sem esquecer os fantásticos Dealema.
O grande e grave problema da música moderna portuguesa atualmente, com a honrosa exceção da Antena 3, chama-se rádio. É muito difícil conseguir entrar para as estações principais, que privilegiam a música estrangeira. E se uma música não passar na rádio ou numa novela, é como se não existisse.
Para acabar, devemos ser o único país no mundo em que, nos três canais principais de TV, não há um único programa semanal dedicado à música, portuguesa ou não.