"Muitas vezes pensei em parar, mas a vontade de continuar e de fazer música é mais forte."
Entrevista por: Lisandro Jesus
Entrevista por: Lisandro Jesus
Com origens na primeira metade dos anos 80, os Iberia são um dos nomes mais reconhecidos do metal nacional. No entanto, o seu percurso foi errático, com várias trocas de membros e um extenso período de inactividade. Depois de celebrarem o seu regresso com "Revolution", álbum de 2011, lançam agora "Much Higher than a Hope", o seu quarto longa-duração. Falámos do antes, do agora e do depois com João Sérgio, baixista e o único membro fundador ainda presente na banda.
Antes de falarmos nos Iberia, que é para isso que aqui estamos, poderias dar a tua opinião sobre o mediatismo atual que se vai desenrolando nas redes sociais e imprensa portuguesa acerca do caso de usurpação de canções de Francisco Landum, um dos fundadores dos Iberia e um nome incontornável na música portuguesa?
Não gostaria muito de entrar por esses campos. O Landum foi um dos fundadores dos Iberia comigo [João Sérgio], o João Alex e o Toninho e durante o seu tempo de permanência na banda fez grandes temas e foi um músico de excelência. No que diz respeito a Iberia isso basta-nos, não estou em crer que tenha plagiado musica alguma para nós, e isso é que é importante. O Landum não está ligado à banda há anos e o que ele faz ou deixa de fazer fora desse âmbito é da sua inteira responsabilidade. Lamento muito que as coisas se tenham desenrolado assim para ele, mas volto a dizer: é a ele que compete dar respostas a isso.
Fala-nos deste novo álbum, o “Much Higher Than a Hope”, e o que esperar dele para quem ainda não ouviu o último trabalho dos Iberia.
Este álbum tem 10 temas originais, apresenta uma produção mais cuidada, mais incisiva e mais forte do que os anteriores. Trata-se dum trabalho conjunto de 3 anos em que se denota a influência da voz do Hugo Soares, há um maior peso nas músicas e nas letras e uma atitude muito mais “in the face” do que até aqui. Penso que estamos perante um álbum poderoso que não deve nada a muito do que anda por aí. Acho que conseguimos fazer um bom trabalho e resta-nos agora esperar que dê frutos e que as pessoas o oiçam e divulguem!
A banda tem uma paragem bastante prolongada, de 1995 a 2011, altura em que vocês lançam o “Revolution”. Qual o motivo de tantos anos de espera?
A banda parou as suas actividades em 1996, altura em que se viu que o caminho que estávamos a seguir não era o que queríamos. Penso que acusámos o desgaste. A saida de elementos não foi alheia a isso e os tempos mudaram muito, com o grunge em força e o rock a ser deixado de parte. Se foi dificil para muitos grandes nomes mundiais imagina para nós. Houve de facto esse hiato até 2008, altura em que a editora Espacial reeditou os dois primeiros álbuns e aí houve a ideia de relançar a banda. Juntámos os elementos que na altura pensámos ser os indicados para o projecto e avançámos com um concerto de estreia em Junho de 2009 e começámos a trabalhar no álbum “Revolution” que saiu em 2011. Desde ai, não parámos mais.
João, numa entrevista recente que deste, dizes que os Iberia já tiveram 18 integrantes no total da história da banda. Tu és o único a aguentar a carruagem, sendo o único membro fundador na atualidade e presumo que não tem sido fácil. Achas que tens neste momento um núcleo duro, para enfrentar o futuro? É com eles que esperas ter um grupo solidificado, um pouco à semelhança do final da década de 80?
Não tem sido fácil. Muitas vezes pensei em parar, mas a vontade de continuar e de fazer música é mais forte e custava-me ver um projecto como os Iberia a terminar por causa disso. Cheguei a estar practicamente sozinho nisto, o que é arrasador. Ter de começar tudo de novo, arranjar elementos, ensaiar tudo outra vez e voltar a ter uma saída é frustrante e desgastante. Sempre teimei e estou aqui. Espero que por mais anos, o tempo o dirá.
Quanto à estabilização da banda, eu espero que sim. Não é bom para a saúde duma banda andar sempre a mudar de elementos. Penso que neste momento temos um núcleo duro para manter a banda e continuar a trabalhar e a enfrentar os obstáculos. Esta formação é muito forte e seria muito mau se algo corresse mal neste momento. Era de uma injustiça tamanha..
Como vês o estado atual do metal em Portugal? E quais as diferenças dos eternos 80s para agora?
Muitas. Por um lado há coisas que nunca mudam. Mas há mais condições agora, a nível técnico, know-how e muita diversidade de bandas. Muitas delas ja se viram lá para fora o que é bom e há já um leque de nomes conhecidos por este mundo fora. Ainda assim acho muito insuficiente. Por um lado há muita coisa mas muitas delas sem qualidade. E não falo sá nas bandas, falo em infraesctructuras, festivais, editoras, etc. Hoje em dia dás um pontapé numa pedra e surge uma banda, uma editora ou um festival um pouco por toda a parte. Muitos deles sem o mínimo de condições para desenvolver um trabalho válido para meter as coisas a mexer! Isso é mau, não pensem que é bom. Não é. Para ninguém. Por outro lado fazem-se concertos com bons cartazes e a malta fica em casa. Não entendo. Todos se juntam para ir ao Meo Arena ou a um estádio para ver uma banda grande. Mas para ir assistir ao lançamento dum álbum duma banda Portuguesa se calhar ficam em casa e dizem: epá, hoje não me apetece, vou para a próxima. Esquecem-se que ao votarem ao abandono algumas bandas e eventos, pode não haver próxima. E depois interrogam-se sobre o porquê dessa banda ou evento ter acabado ou já não tocar em certos locais. E depois vêm para as redes sociais a lamentar-se e a pedir que voltem. Vejam o exemplo dos espanhóis que apoiam a 100% as suas bandas, perante seja quem for...
Há muita coisa a mudar/melhorar de facto. E uma coisa que ninguém repara é que não passamos do underground. Não há estratégia para elevar o metal a um estilo musical de massas. Se há tanta gente a gostar, por que razão não se passa disto? Fica a pergunta...
Antes de falarmos nos Iberia, que é para isso que aqui estamos, poderias dar a tua opinião sobre o mediatismo atual que se vai desenrolando nas redes sociais e imprensa portuguesa acerca do caso de usurpação de canções de Francisco Landum, um dos fundadores dos Iberia e um nome incontornável na música portuguesa?
Não gostaria muito de entrar por esses campos. O Landum foi um dos fundadores dos Iberia comigo [João Sérgio], o João Alex e o Toninho e durante o seu tempo de permanência na banda fez grandes temas e foi um músico de excelência. No que diz respeito a Iberia isso basta-nos, não estou em crer que tenha plagiado musica alguma para nós, e isso é que é importante. O Landum não está ligado à banda há anos e o que ele faz ou deixa de fazer fora desse âmbito é da sua inteira responsabilidade. Lamento muito que as coisas se tenham desenrolado assim para ele, mas volto a dizer: é a ele que compete dar respostas a isso.
Fala-nos deste novo álbum, o “Much Higher Than a Hope”, e o que esperar dele para quem ainda não ouviu o último trabalho dos Iberia.
Este álbum tem 10 temas originais, apresenta uma produção mais cuidada, mais incisiva e mais forte do que os anteriores. Trata-se dum trabalho conjunto de 3 anos em que se denota a influência da voz do Hugo Soares, há um maior peso nas músicas e nas letras e uma atitude muito mais “in the face” do que até aqui. Penso que estamos perante um álbum poderoso que não deve nada a muito do que anda por aí. Acho que conseguimos fazer um bom trabalho e resta-nos agora esperar que dê frutos e que as pessoas o oiçam e divulguem!
A banda tem uma paragem bastante prolongada, de 1995 a 2011, altura em que vocês lançam o “Revolution”. Qual o motivo de tantos anos de espera?
A banda parou as suas actividades em 1996, altura em que se viu que o caminho que estávamos a seguir não era o que queríamos. Penso que acusámos o desgaste. A saida de elementos não foi alheia a isso e os tempos mudaram muito, com o grunge em força e o rock a ser deixado de parte. Se foi dificil para muitos grandes nomes mundiais imagina para nós. Houve de facto esse hiato até 2008, altura em que a editora Espacial reeditou os dois primeiros álbuns e aí houve a ideia de relançar a banda. Juntámos os elementos que na altura pensámos ser os indicados para o projecto e avançámos com um concerto de estreia em Junho de 2009 e começámos a trabalhar no álbum “Revolution” que saiu em 2011. Desde ai, não parámos mais.
João, numa entrevista recente que deste, dizes que os Iberia já tiveram 18 integrantes no total da história da banda. Tu és o único a aguentar a carruagem, sendo o único membro fundador na atualidade e presumo que não tem sido fácil. Achas que tens neste momento um núcleo duro, para enfrentar o futuro? É com eles que esperas ter um grupo solidificado, um pouco à semelhança do final da década de 80?
Não tem sido fácil. Muitas vezes pensei em parar, mas a vontade de continuar e de fazer música é mais forte e custava-me ver um projecto como os Iberia a terminar por causa disso. Cheguei a estar practicamente sozinho nisto, o que é arrasador. Ter de começar tudo de novo, arranjar elementos, ensaiar tudo outra vez e voltar a ter uma saída é frustrante e desgastante. Sempre teimei e estou aqui. Espero que por mais anos, o tempo o dirá.
Quanto à estabilização da banda, eu espero que sim. Não é bom para a saúde duma banda andar sempre a mudar de elementos. Penso que neste momento temos um núcleo duro para manter a banda e continuar a trabalhar e a enfrentar os obstáculos. Esta formação é muito forte e seria muito mau se algo corresse mal neste momento. Era de uma injustiça tamanha..
Como vês o estado atual do metal em Portugal? E quais as diferenças dos eternos 80s para agora?
Muitas. Por um lado há coisas que nunca mudam. Mas há mais condições agora, a nível técnico, know-how e muita diversidade de bandas. Muitas delas ja se viram lá para fora o que é bom e há já um leque de nomes conhecidos por este mundo fora. Ainda assim acho muito insuficiente. Por um lado há muita coisa mas muitas delas sem qualidade. E não falo sá nas bandas, falo em infraesctructuras, festivais, editoras, etc. Hoje em dia dás um pontapé numa pedra e surge uma banda, uma editora ou um festival um pouco por toda a parte. Muitos deles sem o mínimo de condições para desenvolver um trabalho válido para meter as coisas a mexer! Isso é mau, não pensem que é bom. Não é. Para ninguém. Por outro lado fazem-se concertos com bons cartazes e a malta fica em casa. Não entendo. Todos se juntam para ir ao Meo Arena ou a um estádio para ver uma banda grande. Mas para ir assistir ao lançamento dum álbum duma banda Portuguesa se calhar ficam em casa e dizem: epá, hoje não me apetece, vou para a próxima. Esquecem-se que ao votarem ao abandono algumas bandas e eventos, pode não haver próxima. E depois interrogam-se sobre o porquê dessa banda ou evento ter acabado ou já não tocar em certos locais. E depois vêm para as redes sociais a lamentar-se e a pedir que voltem. Vejam o exemplo dos espanhóis que apoiam a 100% as suas bandas, perante seja quem for...
Há muita coisa a mudar/melhorar de facto. E uma coisa que ninguém repara é que não passamos do underground. Não há estratégia para elevar o metal a um estilo musical de massas. Se há tanta gente a gostar, por que razão não se passa disto? Fica a pergunta...