Com uma programação regular e bem definida, o Cave 45 rapidamente se tornou numa das salas mais icónicas do Porto, bem como numa segunda casa para fãs de rock, punk e metal. A notícia do seu encerramento no final deste ano apanhou muita gente de surpresa, levando até à criação de uma petição na tentativa de reverter essa decisão. Falámos com Iolanda Pereira e Oscar Pinho, dois dos três donos do espaço, para perceber melhor a sua história e o que levou ao seu encerramento.
Entrevista e fotos por: Daniel Sampaio
Entrevista e fotos por: Daniel Sampaio
Para começar pelo início de tudo, como era a vossa vida antes do Cave?
Oscar: No meu caso, fui uma das pessoas fundadoras da Carbono em 1995, que depois se tornou Piranha. Entretanto abandonei a Piranha e montei com a Iolanda a Lost Underground. Em termos de organização de eventos, comecei em 97, fiz alguns concertos esporádicos, algumas coisas no Comix, no antigo Hard Club, no Porto-Rio… e no Porto-Rio surgiu também a Cooperativa dos Otários, que teve uma atividade mais ou menos regular durante alguns anos, com o Rodas a fazer a produção dos eventos.
Iolanda: Trabalho à noite há 17 anos, trabalhei no antigo Hard Club e fui gerente do novo, e pelo caminho tive a Lost Underground com o Oscar.
O que vos levou aos três a abrir o Cave 45?
Oscar: Foi uma ideia do Rodas, que convidou a Iolanda, com quem tive uma boa experiência de trabalho na Lost Underground e no Hard Club, e a Iolanda queria trabalhar comigo, portanto fui a terceira pessoa a entrar. Obviamente, achámos que havia uma lacuna no Porto em termos de espaços por não haver nenhum exclusivamente dedicado ao rock nas suas variadas vertentes, e queríamos colmatar essa lacuna.
Então a visão que tinham para o Cave, inicialmente, passava por uma abordagem talvez mais generalista do que um Maus Hábitos, focado no rock alternativo e música indie, ou um Metalpoint, focado no metal underground?
Iolanda: Não pensámos em termos de música generalista, mas dentro de alguns nichos de mercado que muitos sítios do Porto não faziam e, claro, de acordo com a dimensão da nossa sala. Géneros como o punk e o hardcore, por exemplo, foram sempre um bocado menosprezados por outros sítios, o stoner também, e foi precisamente esse tipo de géneros que quisemos planear para aqui. O pop e o indie são géneros que outras casas do Porto fazem e que nós não trabalhamos tanto aqui. Os géneros de música que trabalhamos são também os géneros de que eu e o Oscar gostamos e que, portanto, queríamos ter aqui.
Oscar: No meu caso, fui uma das pessoas fundadoras da Carbono em 1995, que depois se tornou Piranha. Entretanto abandonei a Piranha e montei com a Iolanda a Lost Underground. Em termos de organização de eventos, comecei em 97, fiz alguns concertos esporádicos, algumas coisas no Comix, no antigo Hard Club, no Porto-Rio… e no Porto-Rio surgiu também a Cooperativa dos Otários, que teve uma atividade mais ou menos regular durante alguns anos, com o Rodas a fazer a produção dos eventos.
Iolanda: Trabalho à noite há 17 anos, trabalhei no antigo Hard Club e fui gerente do novo, e pelo caminho tive a Lost Underground com o Oscar.
O que vos levou aos três a abrir o Cave 45?
Oscar: Foi uma ideia do Rodas, que convidou a Iolanda, com quem tive uma boa experiência de trabalho na Lost Underground e no Hard Club, e a Iolanda queria trabalhar comigo, portanto fui a terceira pessoa a entrar. Obviamente, achámos que havia uma lacuna no Porto em termos de espaços por não haver nenhum exclusivamente dedicado ao rock nas suas variadas vertentes, e queríamos colmatar essa lacuna.
Então a visão que tinham para o Cave, inicialmente, passava por uma abordagem talvez mais generalista do que um Maus Hábitos, focado no rock alternativo e música indie, ou um Metalpoint, focado no metal underground?
Iolanda: Não pensámos em termos de música generalista, mas dentro de alguns nichos de mercado que muitos sítios do Porto não faziam e, claro, de acordo com a dimensão da nossa sala. Géneros como o punk e o hardcore, por exemplo, foram sempre um bocado menosprezados por outros sítios, o stoner também, e foi precisamente esse tipo de géneros que quisemos planear para aqui. O pop e o indie são géneros que outras casas do Porto fazem e que nós não trabalhamos tanto aqui. Os géneros de música que trabalhamos são também os géneros de que eu e o Oscar gostamos e que, portanto, queríamos ter aqui.
Dokuga, 2016
Também tinham, desde o início, a ideia de abrir a sala na baixa do Porto, ou isso foi algo que veio depois?
Iolanda: Primeiro foi o sítio, na realidade. Encontrámos esta sala, e esta sala tinha algumas características, como a insonorização, que nos permitiam levar adiante a ideia que tínhamos de fazer uma sala dos concertos. Além da localização, esse foi o principal motivo que nos levou a escolher esta sala em particular. Depois deparámo-nos com algumas limitações: podíamos ter uma sala um pouco maior, e um espaço que nos permitisse ter esplanada, mas fazemos o que conseguimos fazer com o espaço que temos.
Olhando em retrospetiva, arrependem-se da escolha que fizeram?
Oscar: A escolha foi uma das nossas grandes limitações… um dos motivos é a parte de cima ser um bocado exígua, e a parte de baixo, fora dos concertos, não funcionou assim tão bem. Poderíamos ter rentabilizado o espaço com uma esplanada como a Iolanda referiu, ou servindo comida, mas que é uma coisa praticamente impossível em termos legais e higiénicos neste espaço; podíamos ter tido um bengaleiro, um backstage, tudo coisas que a exiguidade do espaço limitou.
Mas teriam opções suficientes para escolher outro local?
Iolanda: Tendo em conta a localização, não havia propriamente outros sítios disponíveis que nos permitissem fazer o que nós queríamos fazer aqui.
Agora que já é público o encerramento do Cave, a ideia que é transmitida é que estão a ser “empurrados” para fora do espaço para que seja aberto um hostel. É essa a vossa visão?
Iolanda: Não, não.
Oscar: Não, de todo. O que se passou foi que nós, a certa altura, estávamos a trabalhar arduamente sem receber propriamente um salário. Não temos qualquer dívida, mas ficámos cansados dessa situação. Decidimos que seria melhor por termo ao projeto. Há outras implicações, o senhorio não deveria renovar o contrato uma vez que ele findasse em outubro de 2019, mas basicamente foi essa a razão para anteciparmos o fim do espaço.
Iolanda: Foi uma decisão muito ponderada, muito pensada, mas foi a conclusão a que chegámos. Vamos encerrar esta etapa e, quem sabe, daqui a uns anos poderemos entrar novamente em mais uma história destas.
Sendo uma decisão vossa, também não terá fundamento aquele rumor de que punks e metaleiros eram vistos como causadores de mau ambiente na zona.
Iolanda: Não, pelo contrário, era um dos espaços da zona que quer os vizinhos, quer o público em geral via com melhores olhos. Acho que somos uma das casas que se pode dar ao luxo de dizer que temos um excelente ambiente e que praticamente nunca tivemos problemas aqui com clientes.
Gnaw Their Tongues, 2017
A decisão de alargarem a outros géneros, fazendo por exemplo festas de trap, já foi uma espécie de último empurrão para ver se valeria a pena continuar?
Oscar: Na realidade compensava, mas eu e a Iolanda – o Rodas tem uma posição diferente – não estávamos dispostos a abrir demasiado para a música de dança.
Iolanda: Não eram géneros que queríamos ter aqui porque não têm nada a ver com o conceito pelo qual iniciámos este bar.
Oscar: O ambiente era muito diferente, dá mais problemas em termos de público, coisa que com o rock não temos… a verdade é que financeiramente é uma ajuda, mas não queremos ir por aí e preferimos morrer de pé, acabando o projeto com os objetivos iniciais. Além de que, de certa maneira, ia alienar algum do nosso outro público.
Esse “outro público” está mais focado na música ao vivo, mas acham que no Porto (ou em Portugal) há pouco hábito de convívio em bares dedicados ao rock e metal?
Iolanda: Tanto temos clientes que frequentam o Cave como bar, que vêm cá quase todos os dias em que estamos abertos, como temos um público somente direcionado para concertos, que sai de casa para ir ver os concertos, e que provavelmente volta a casa no fim dos concertos, não vendo o Cave como um bar. Acho que nesse aspeto temos todo o tipo de público.
Oscar: Nesse aspeto, o que terá resultado menos bem no Cave é o facto de o rés-do-chão, como bar, ser muito pequeno, e a parte da cave propriamente dita não ter sido rentabilizada como “discoteca”. Não poderíamos ter mesas lá em baixo porque ia roubar espaço aos concertos, e só em casos muito específicos é que as pessoas ficam para lá dos concertos.
Iolanda: Mas sempre fizemos questão de termos DJs adequados a seguir aos concertos que aqui tínhamos. Há públicos que ficam, há públicos que não ficam.
Faria sentido tentar expandir para cima, ou tentar renegociar de outra forma o contrato?
Oscar: Chegámos a pensar nisso, isto porque a loja do lado sempre esteve por utilizar. Mas era um senhorio diferente e em termos orçamentais seria um investimento bastante grande, teríamos de deitar abaixo a parede, e seria bastante complicado.
Mécanosphère, 2015
Não fará diferença, mas sabem certamente que há uma petição a circular numa tentativa de evitar o encerramento do Cave. O que sentem ao ver que atingiu cerca de 1500 assinaturas no espaço de uma semana?
Iolanda: Sentimos um enorme carinho e um enorme apoio por parte das pessoas, que sei que o fizeram com a melhor das intenções. Temos tido reações muito comoventes por parte do público em relação ao espaço, que por vezes deixa claro que esta é verdadeiramente a sua casa e onde mais gostam de ver concertos. Lamentamos profundamente o facto de estarmos quase a dar um desgosto a muita gente, mas está ligado a questões pessoais e neste momento não conseguimos continuar este projeto nos moldes a que nos propusemos.
É uma motivação adicional para aquilo que referiste há pouco, de eventualmente abrir um novo espaço no futuro com a mesma lógica que o Cave?
Iolanda: Ou isso ou uma nova Lost Underground, uma nova loja de discos. Da parte do Rodas, penso que ele terá em vista abrir um novo bar; eu e o Oscar vamos agora parar e pensar no que queremos fazer de futuro. Mas tanto uma loja como um espaço de concertos são possibilidades, claro.
E uma loja de discos com uma cave para concertos?
Iolanda: [risos] sim, isso era boa opção.
Só para terminar: se pensarem nestes quase 3 anos do Cave, o que vem mais rapidamente à cabeça? O que vos marcou?
Oscar: Houve concertos de bandas que nunca julguei que pudéssemos receber, dada a dimensão do espaço, mas não sei… tal como nos outros empregos que tive, deu para fazer alguns bons amigos. Também deu para conhecer uma série de bandas portuguesas interessantes de vários espectros.
Iolanda: A mim, em termos de concertos, foram os concertos de Vulcano e de Manilla Road, foi um orgulho poder ver duas bandas que adoro neste espaço.