Ano: 2019 | Editora: Hellprod Records | Review por: Guilherme Lucas
“Os Alcoholocaust conceberam, com este seu trabalho, algo que só os pode deixar orgulhosos para o futuro: Necro Apocalipse Bestial revela-se um álbum de grande qualidade, com uma energia impressionante e contagiante, obscura e sincera, profunda na sua escrita rude”.
“Os Alcoholocaust conceberam, com este seu trabalho, algo que só os pode deixar orgulhosos para o futuro: Necro Apocalipse Bestial revela-se um álbum de grande qualidade, com uma energia impressionante e contagiante, obscura e sincera, profunda na sua escrita rude”.
Necro Apocalipse Bestial é o nome do álbum de estreia dos thrashers metalpunks, Alcoholocaust, editado no passado mês de Setembro pela DIY Hellprod Records. Apresenta-se como um trabalho de grande fôlego, forjado nas mais profundas e degradantes trevas do Inferno e da decadência humana, onde Satanás e as suas legiões de anjos malditos imperam, como nos é sugerido no tema de abertura, Solução Abismal: “Os portões do submundo eu abro//Estendo um tapete vermelho ao diabo//Soldado do diabo//Consolidação do mal//Blasfémia exotérica//Solução abismal” ou “O vosso paraíso nunca será como o meu inferno//Dos gritos de dor, faço um hino eterno”. Com muito álcool à mistura.
Os Alcoholocaust são um quinteto de speed thrash metal punk old school (cuja força motriz embrionária emana do guitarrista Possessus e do vocalista Blasphemator), atualizados para este nosso tempo, com uma vertente muito considerável de black metal na parte da vocalização e das letras dos temas (em português), com uma sonoridade muito dentro do género de bandas maiores do seu estilo, dos anos 80. Abreviando, é blackened-thrash. Se os compararmos inevitavelmente com outras suas congéneres que são também referências estilísticas, citadas nas entrevistas da banda, como uns incontornáveis Motörhead, Destruction, Kreator, Sodom, Poison, Sarcófago, ou até num outro quadrante, Ramones, Ratos de Porão ou Discharge, somos levados a equacionar que uns tiveram, ou ainda têm, carreiras de longo curso que permitiram obter um estatuto global, e que os Alcoholocaust ainda estão no seu início, pesem já os seus quatorze anos de existência, diferentes line-ups, e algumas demos que permitiram captar a atenção de muitos headbangers (e não só) dentro do seu meio. No campo estritamente musical, a banda só depende de si, já que demonstra uma enorme capacidade técnica e criativa para almejar um estatuto maior. O que conta para a história do rock’n’roll underground são as bandas sobreviventes, resistentes e criativas. Estes Alcoholocaust demonstram ter essa equação tão necessária para almejar algo mais, mas o seu futuro dependerá naturalmente das suas escolhas e decisões.
Os Alcoholocaust conceberam, com este seu trabalho, algo que só os pode deixar orgulhosos para o futuro: Necro Apocalipse Bestial revela-se um álbum de grande qualidade, com uma energia impressionante e contagiante, obscura e sincera, profunda na sua escrita rude. Algo que à partida parece ser uma contradição, mas que, emparelhado com a sua construção sonora, oferece essa perceção de que há algo sério e grave nesta banda de adoradores do álcool, do headbanging, e do diabo, mesmo quando misturado com o mais puro entretenimento rock’n’roll, sendo contundente na abordagem das temáticas mais queridas ao seu estilo musical, com uma violência nas letras singular e descritiva, de grande impacto sugestivo, como é exemplo: “Poder e dor, bilhete para o caos//
Sinal do mal, eterna devastação//Sete igrejas, vingança do inferno//Espalhando a doença, prazer de matar” e “O Inferno espera, sem misericórdia//Escravos do crucifixo, possuídos pelo fogo//Não quebres a promessa, a escuridão cai//Sábado negro, espectro da morte”, em Assalto Metálico. Não é um álbum inovador, ou surpreendente, mas antes revigorante e excitante. Há diferenças primordiais nestes dois quadrantes, naturalmente, mas ambos são igualmente apetecíveis para qualquer melómano.
Necro Apocalipse Bestial é composto por dez temas arrasadores e diretos, o que torna o álbum muito coeso e rigoroso, com um fio condutor lógico, dentro da sua estética musical. O seu instrumental é primoroso, não havendo momentos duvidosos ou de facilitação amadora que se possam apontar. O quinteto revela uma enorme cultura musical e uma técnica maior em todos os seus temas, e nesta parte não há muito mais a acrescentar. Nota máxima, portanto. Como as bandas deste género não podem vingar com um vocalista que não esteja à altura desta avalanche sonora das trevas, Blasphemator, o mestre de cerimónias, tem um papel crucial. As suas letras, que abordam o satanismo, a violência ritualista, o ódio à Humanidade num grau de misantropia elevado, odes ao álcool, às orgias e ao degredo, com o gangue de metal-punks a deambular caoticamente pelas ruas escuras da cidade, com abundantes descrições apocalípticas, satânicas e criminosas, revelam-se fundamentais para a credibilidade estilística destes Alcoholocaust. Sem esquecer de mencionar o seu bom timbre de voz, dentro do estilo de imprecação black-metal. Há personalidade e convicção no seu canto e na métrica aplicada, oferecendo a possibilidade ao ouvinte de entender, sem muita dificuldade, a maior parte das letras das músicas do coletivo. Se considerarmos que em muitos casos, essa é uma situação quase impossível de obter dos vocalistas de outras bandas do género, Blasphemator prova que há sempre formas criativas de surpreender.
Este álbum não faz prisioneiros, representando um único momento e um único registo de energia. Não é por isso dos mais indicados para se eleger os temas mais interessantes. Contudo, dois deles parecem ser os mais marcantes. Um é Anti-Gótico, com um andamento e um refrão mais orelhudo, e com uma letra do mais puro ódio a uma das cenas do underground, com a sua eventual ramificação a alguma parte da cena metal. “Lança-chamas a lavrar//Fogo impuro vomitar//As rendinhas a queimar//Estes merdas exterminar//Anti-gótico!” é bastante elucidativo disso.
O segundo tema, e que escolhemos como o melhor do álbum, é Anti-Sóbrio, mais uma vez pela feliz comunhão entre música e uma letra “in your face”, simples, mas eloquente, especialmente na parte: “Sente a minha fúria, ela está no ar//Encostado ao balcão, as horas a passar//Satanás invoco na escuridão//Mais uma noite de total destruição//Porque eu sou//Anti-sóbrio//A destilar ódio//Porque eu sou//Anti-social//A curtir rock n'roll”. O underground recria-se sempre, através destas pequenas pérolas.
Graficamente, Necro Apocalipse Bestial, não inova dentro do género, mas também não desilude, cumprindo com distinção o seu propósito estético. É bastante cuidado em termos de informação e fotos da banda, e a sua capa, muito dentro do estilo das bandas thrash metal, é bastante bem concebida em termos de desenho (de qualidade), da autoria de Victor Costa, espelhando quase na totalidade as temáticas dos temas que compõem o álbum, com especial enfoque no devastador bulldozer satânico no centro da ilustração, que nos remete diretamente para o tema Bulldozer Infernal, “A cidade em chamas, o bulldozer a lavrar//Tornado da maldade, o massacre vai começar//Som nas alturas, picos no braço//Correntes e balas, fígado de aço//Legiões do inferno, os portões estão abertos!//Álcool, thrash, o destino é certo//Ganga e cabedal, cruzes invertidas//Cinzeiro cheio, garrafas partidas//Legiões do inferno, os portões estão abertos!//Morte, sangue, o destino é certo//Esquadrão da morte//Bulldozer infernal//Cerveja e croft//Bulldozer infernal”.
Necro Apocalipse Bestial é, resumidamente, um muito bom álbum de blackened thrash, com uma boa produção e masterização, sendo já um dos melhores álbuns nacionais de metal em 2019. Bastante recomendável, proporciona um interesse acrescido para seguir a carreira do grupo desde já.
Os Alcoholocaust são um quinteto de speed thrash metal punk old school (cuja força motriz embrionária emana do guitarrista Possessus e do vocalista Blasphemator), atualizados para este nosso tempo, com uma vertente muito considerável de black metal na parte da vocalização e das letras dos temas (em português), com uma sonoridade muito dentro do género de bandas maiores do seu estilo, dos anos 80. Abreviando, é blackened-thrash. Se os compararmos inevitavelmente com outras suas congéneres que são também referências estilísticas, citadas nas entrevistas da banda, como uns incontornáveis Motörhead, Destruction, Kreator, Sodom, Poison, Sarcófago, ou até num outro quadrante, Ramones, Ratos de Porão ou Discharge, somos levados a equacionar que uns tiveram, ou ainda têm, carreiras de longo curso que permitiram obter um estatuto global, e que os Alcoholocaust ainda estão no seu início, pesem já os seus quatorze anos de existência, diferentes line-ups, e algumas demos que permitiram captar a atenção de muitos headbangers (e não só) dentro do seu meio. No campo estritamente musical, a banda só depende de si, já que demonstra uma enorme capacidade técnica e criativa para almejar um estatuto maior. O que conta para a história do rock’n’roll underground são as bandas sobreviventes, resistentes e criativas. Estes Alcoholocaust demonstram ter essa equação tão necessária para almejar algo mais, mas o seu futuro dependerá naturalmente das suas escolhas e decisões.
Os Alcoholocaust conceberam, com este seu trabalho, algo que só os pode deixar orgulhosos para o futuro: Necro Apocalipse Bestial revela-se um álbum de grande qualidade, com uma energia impressionante e contagiante, obscura e sincera, profunda na sua escrita rude. Algo que à partida parece ser uma contradição, mas que, emparelhado com a sua construção sonora, oferece essa perceção de que há algo sério e grave nesta banda de adoradores do álcool, do headbanging, e do diabo, mesmo quando misturado com o mais puro entretenimento rock’n’roll, sendo contundente na abordagem das temáticas mais queridas ao seu estilo musical, com uma violência nas letras singular e descritiva, de grande impacto sugestivo, como é exemplo: “Poder e dor, bilhete para o caos//
Sinal do mal, eterna devastação//Sete igrejas, vingança do inferno//Espalhando a doença, prazer de matar” e “O Inferno espera, sem misericórdia//Escravos do crucifixo, possuídos pelo fogo//Não quebres a promessa, a escuridão cai//Sábado negro, espectro da morte”, em Assalto Metálico. Não é um álbum inovador, ou surpreendente, mas antes revigorante e excitante. Há diferenças primordiais nestes dois quadrantes, naturalmente, mas ambos são igualmente apetecíveis para qualquer melómano.
Necro Apocalipse Bestial é composto por dez temas arrasadores e diretos, o que torna o álbum muito coeso e rigoroso, com um fio condutor lógico, dentro da sua estética musical. O seu instrumental é primoroso, não havendo momentos duvidosos ou de facilitação amadora que se possam apontar. O quinteto revela uma enorme cultura musical e uma técnica maior em todos os seus temas, e nesta parte não há muito mais a acrescentar. Nota máxima, portanto. Como as bandas deste género não podem vingar com um vocalista que não esteja à altura desta avalanche sonora das trevas, Blasphemator, o mestre de cerimónias, tem um papel crucial. As suas letras, que abordam o satanismo, a violência ritualista, o ódio à Humanidade num grau de misantropia elevado, odes ao álcool, às orgias e ao degredo, com o gangue de metal-punks a deambular caoticamente pelas ruas escuras da cidade, com abundantes descrições apocalípticas, satânicas e criminosas, revelam-se fundamentais para a credibilidade estilística destes Alcoholocaust. Sem esquecer de mencionar o seu bom timbre de voz, dentro do estilo de imprecação black-metal. Há personalidade e convicção no seu canto e na métrica aplicada, oferecendo a possibilidade ao ouvinte de entender, sem muita dificuldade, a maior parte das letras das músicas do coletivo. Se considerarmos que em muitos casos, essa é uma situação quase impossível de obter dos vocalistas de outras bandas do género, Blasphemator prova que há sempre formas criativas de surpreender.
Este álbum não faz prisioneiros, representando um único momento e um único registo de energia. Não é por isso dos mais indicados para se eleger os temas mais interessantes. Contudo, dois deles parecem ser os mais marcantes. Um é Anti-Gótico, com um andamento e um refrão mais orelhudo, e com uma letra do mais puro ódio a uma das cenas do underground, com a sua eventual ramificação a alguma parte da cena metal. “Lança-chamas a lavrar//Fogo impuro vomitar//As rendinhas a queimar//Estes merdas exterminar//Anti-gótico!” é bastante elucidativo disso.
O segundo tema, e que escolhemos como o melhor do álbum, é Anti-Sóbrio, mais uma vez pela feliz comunhão entre música e uma letra “in your face”, simples, mas eloquente, especialmente na parte: “Sente a minha fúria, ela está no ar//Encostado ao balcão, as horas a passar//Satanás invoco na escuridão//Mais uma noite de total destruição//Porque eu sou//Anti-sóbrio//A destilar ódio//Porque eu sou//Anti-social//A curtir rock n'roll”. O underground recria-se sempre, através destas pequenas pérolas.
Graficamente, Necro Apocalipse Bestial, não inova dentro do género, mas também não desilude, cumprindo com distinção o seu propósito estético. É bastante cuidado em termos de informação e fotos da banda, e a sua capa, muito dentro do estilo das bandas thrash metal, é bastante bem concebida em termos de desenho (de qualidade), da autoria de Victor Costa, espelhando quase na totalidade as temáticas dos temas que compõem o álbum, com especial enfoque no devastador bulldozer satânico no centro da ilustração, que nos remete diretamente para o tema Bulldozer Infernal, “A cidade em chamas, o bulldozer a lavrar//Tornado da maldade, o massacre vai começar//Som nas alturas, picos no braço//Correntes e balas, fígado de aço//Legiões do inferno, os portões estão abertos!//Álcool, thrash, o destino é certo//Ganga e cabedal, cruzes invertidas//Cinzeiro cheio, garrafas partidas//Legiões do inferno, os portões estão abertos!//Morte, sangue, o destino é certo//Esquadrão da morte//Bulldozer infernal//Cerveja e croft//Bulldozer infernal”.
Necro Apocalipse Bestial é, resumidamente, um muito bom álbum de blackened thrash, com uma boa produção e masterização, sendo já um dos melhores álbuns nacionais de metal em 2019. Bastante recomendável, proporciona um interesse acrescido para seguir a carreira do grupo desde já.