Texto: Joana Ribeiro
Fotos: Daniel Sampaio
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Embora o papel de headliner coubesse a The Black Wizards, arriscamos dizer que a banda que mais cativou nesta noite foi Besta. Era evidente o entusiasmo em vê-los, sobretudo daqueles que já sabem o descalabro que é expectável de um concerto deles. A alternância entre material recente e mais antigo revelou-se eficaz em manter o dinamismo ao longo do concerto, mas admitamos que é sempre especialmente arrebatador ver Besta no seu registo mais primitivo, grind puro e duro como se ouvia em “Ajoelha-te perante a besta” e “Herege”. Apesar da fanbase fiel e de terem vindo a conquistar mais e mais seguidores ao longo do tempo, este há-de ser sempre o som que mais puxa pelo público, remetendo para uns Besta a praticar degredo sonoro numa cave decrépita e mal iluminada. Preferências à parte, estiveram igualmente bem na interpretação dos seus temas mais recentes, com claras influências de death sem nunca perder a essência grind. Meio possuído, um incansável Paulo Rui percorria o palco, a incitar a multidão com as habituais palavras de ordem de clara orientação política. Suspeitamos de que metade dos seus interlocutores estava demasiado embrenhado no bailarico – nem sempre tão amigável como se desejaria – para o ouvir, mas dá-se o benefício da dúvida.
A exaltação do concerto anterior estava agora diluída em suor e era chegada a vez de receber os “dirty blues” dos The Black Wizards. Apresentaram-se em palco com a costumeira coolness, provavelmente conscientes de que eram a banda mais deslocada do cartaz mas mantendo-se fiéis ao seu estilo. Os devaneios melódicos do quarteto pareceram seduzir o público q.b, e quando isto não funcionava, o ocasional momento stoner fazia-o. A voz de Joana Brito vestiu de forma irrepreensível a pele misteriosa e cativante que as suas letras exigem e foi de forma geral um bom concerto, se bem que é impossível comparar esta prestação com aquela que testemunhámos, por exemplo, no SonicBlast Moledo – facto totalmente compreensível devido às diferenças de espaço, público, etc. Ainda assim, apesar da aparente desconexão, o público não deu parte fraca, mostrando-se (pelo menos a maior parte) suficientemente interessado para ficar até ao fim do concerto. The Black Wizards decerto ficaram melhor a encerrar a noite – lugar que sem dúvida merecem – do que a ocupar uma posição aleatória no line-up em que quebrariam o “mood” dominante. A união de diferentes sonoridades num diferente cartaz é uma fórmula por vezes arriscada mas que se mostrou vencedora: o balanço da noite é muito positivo.