Texto: Joana Ribeiro
Fotos: Daniel Sampaio
Dia 1
A abrir o primeiro dia estiveram os portugueses Tendagruta, dupla experimental que nos levou num passeio contemplativo da sua paisagem sonora, maioritariamente instrumental com incursões ocasionais de voz. Actuação desconcertante, ora induzindo uma espécie de hipnose em quem assistia, pela repetitividade do som, ora causando sobressalto com passagens tão perturbantes como unhas a raspar num quadro preto. Interessante, no mínimo, mas certamente não para todos os tímpanos.
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Ainda que seja ingrato fazer comparações, sobretudo no que toca a sonoridades diferentes, é preciso fazer menção honrosa aos Lubbert Das, que deram provavelmente o melhor concerto da noite. Com uma desenvoltura pouco comum a bandas deste género, sem o mínimo resquício de afectação, os três músicos foram os veículos de uma energia irada que parecia palpável. Notável também a prestação em termos técnicos, ainda para mais quando alguns integrantes actuavam já pela segunda vez nessa noite. Depois de uma actuação que nos encheu as medidas, ainda havia espaço para a performance conjunta de ATILA e Sinter. A percussão peculiar a que estamos habituados em Sinter deu uma nova roupagem à electrónica sombria e fantasmagórica de ATILA, com um André Coelho em primeiro plano, atarefado entre vocalizações e golpear de materiais vários, combinando-se assim os traços mais interessantes destes dois artistas num fecho de noite que não poderia ser melhor.
Dia 2
O segundo dia do North Dissonant Voices teve um início morno, à semelhança do primeiro. Paean fizeram uma aparição relativamente curta em palco, com uma guitarra bem ruidosa entrecortada por sinos e harmonias vocais. Os membros já haviam provado o seu valor nas actuações da noite anterior e foi pouco mais do que um número de entrada, não havendo muito a dizer.
A performance mais bizarra da noite coube aos DE·TA·US·TO·AS, um curioso duo cuja forte vertente ritualística há-de deixar lembranças por algum tempo. Balançavam-se como possuídos, ajoelhavam-se por entre convulsões, cobrindo-se de tinta e queimando incenso, acompanhando com o seu bradar a electrónica de fundo, naquilo que mais parecia um mantra interminável e remetia para o que imaginamos ser algo entre um ritual satânico e uma cerimónia tribal. A intensidade da actuação não terá deixado ninguém indiferente, contrastando por completo com o que se lhe seguiu. Gnaw Their Tongues gozam de uma considerável reputação junto do público português, não sendo difícil de perceber que, para muitos, eram os mais aguardados da noite, mas não terá sido mais que um concerto insípido e que chegou a ser maçador. A postura tipicamente pouco comunicativa, ou o facto de se encontrarem claramente absorvidos na experimentação e manipulação dos instrumentos, não são necessariamente sinónimos de uma performance que não toca o seu público, mas foi o que aconteceu: a impressão que passou foi a de um concerto dado “à pressa”, como quem está ali mas bem podia não estar, e que acabou por cair na monotonia muito rapidamente.
O burburinho crescia com o aproximar da actuação dos GAEREA, sobre cuja identidade, mantida no mais absoluto segredo, muito se especulava. Com efeito, pareceram conquistar boa parte do público, apesar de, pela sonoridade que trouxeram, destoarem claramente do resto do cartaz, o que representa sempre um risco. Goste-se ou não das suas claras influências core, é sempre de louvar a aposta na variedade por parte da organização, dando oportunidade a bandas que começam agora a trilhar o seu caminho.
A noite encerrou com LVTHN, sem dúvida o concerto que mais agitou a multidão, quanto mais não fosse por teimar em atirar-lhe aquilo que esperamos que fosse só tinta ou vinho. Invadiram o palco com o seu black metal desalmado, disparando riffs agressivos e orelhudos e imparáveis blast beats na nossa direcção sem tréguas e terminando tanto a sua actuação como o festival em beleza com uma cover de “666” de Katharsis, influência óbvia destes belgas.