Texto: Joana Ribeiro
Fotos: Daniel Sampaio
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Duas bandas de sonoridades bem distintas mas unidas por um forte impulso criativo, muito por culpa dos músicos que não aguentam estar parados muito tempo.
Texto: Joana Ribeiro Fotos: Daniel Sampaio
A noite teve início com Sinter, uma espécie de Sektor 304 2.0, com dois dos mesmos membros e uma abordagem relativamente semelhante que decerto agradou a quem já era fã desta banda. Durante cerca de uma hora, assistimos a um espectáculo que mesclava percussão, electrónica e metalúrgica, evocando o ambiente industrial com todas as sensações que ele nos traz. Um discreto e consistente João Pais Filipe apresentou-se na bateria enquanto André Coelho tomou as rédeas, servindo-se de duas grandes chapas de metal para produzir os mais variados sons, golpeando-as, percutindo-as, arremessando-as em graus variantes de intensidade e fazendo até uso de uma rebarbadora, resultando em momentos visualmente cativantes e numa dinâmica muito própria e que sem dúvida prendeu a atenção de todos – nem que fosse por terem de se afastar do palco para evitar ser atingidos pelas faíscas ou por uma das chapas. A mecânica destes movimentos, bem como as vocalizações ocasionais e sinistros interlúdios melódicos, compassados por uma percussão peculiar com ênfase na tarola e timbalões e escapando às acentuações típicas do rock ou metal, juntavam-se a um cheiro característico que enchia a sala (não exactamente a queimado, mas parecido), remetendo-nos para um ambiente de fábrica, ruidoso, opressor, hostil, como se fechados numa sala exígua cheia de cantos aguçados e superfícies ásperas, sem conseguirmos ouvir os nossos próprios pensamentos e presos naquela repetição ensurdecedora e frenética sem fim à vista. O concerto terminou tão abruptamente como havia começado e os nossos sentidos puderam finalmente recompor-se.
Uma fina nuvem de fumo foi enchendo a sala para criar a neblina etérea que anunciava os Névoa. Escolheram para começar o concerto uma versão mais breve de “The Absence Of Void”, progredindo para os temas de “Re:Un”, segundo álbum que constituiu o núcleo da prestação, à medida que a neblina se adensava e, em conjunto com os riffs repetitivos e hipnóticos, criava a sensação de tempo parado e uma ambiência muito singular. O mood, no entanto, foi muitas vezes quebrado por alguns dos assistentes que, sem qualquer respeito pela banda e pelo resto do público, se juntaram ao fundo da sala a conversar tão alto que, em partes mais calmas, se faziam ouvir por cima da música. Talvez devido a isto, perdeu-se um pouco da magia e a actuação pareceu estender-se durante mais tempo do que seria necessário, apesar da irrepreensível prestação dos músicos, que demonstraram em todos os momentos um grande profissionalismo, à-vontade com os seus instrumentos e com os outros membros da banda. Infelizmente isto não foi suficiente para agarrar a atenção do público, que parecia já ter perdido o foco do que se estava a passar no palco, tendo até alguns começado a abandonar o espaço. Um percalço imerecido dos Névoa, que apesar de tudo se mostraram mais do que prontos para a estreia internacional que se dá no próximo dia 12, no festival “Le Guess Who?”, na Holanda. Para encerrar, apresentaram uma música nova, a mostrar que não dão descanso e já se encontram a compor novo material depois de dois discos em dois anos seguidos. Tudo aponta para uma evolução bem favorável da banda, com o futuro a adivinhar-se bem mais optimista do que a sua sonoridade sombria.
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September 2019
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