Texto: Joana Ribeiro
Fotos: Daniel Sampaio
A sala estava ainda a meia capacidade mas a curiosidade para ver Artnis, a actuar pela primeira vez no Porto, era alguma. A sua abordagem surpreendeu na medida em que se esperava algo instrumental e acústico, mas o recurso a este registo foi apenas pontual, tendo grande parte do concerto consistido em black metal sem grandes surpresas. Quem assistia não pareceu cativado por aí além, estando pouco receptivo a uma banda que, por mais do que uma vez, tentou puxar pelo público, criando-se assim um certo distanciamento desconfortável. Embora se compreenda que pretendessem não destoar demasiado das restantes bandas no cartaz, os momentos acústicos foram, sem qualquer dúvida, os pontos mais altos da sua prestação, pelo que optar pela interpretação de “Saudade”, inteiramente acústico, teria sido mais acertado e uma forma de se destacarem numa noite em que acompanharam três nomes completamente consagrados no black metal lusitano. Fica para a próxima.
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Morte Incandescente, aqui em formato de duo pela primeira vez em muito tempo, foram sem sombra de dúvida o ponto alto da noite, com uma actuação absolutamente irrepreensível e a destilar ódio, como sempre os conhecemos. Os blast beats furiosos marcaram o compasso desta ode a Satanás, onde o último álbum “…o mundo morreu!” foi o mais explorado, mas ainda assim deixando bastante espaço a temas icónicos de álbuns anteriores. A viagem ao passado foi gradual ao longo do concerto, revisitando temas de “…Relembrando Um Túmulo Esquecido”, com passagem obrigatória por “Coffin Desecrators” que causou um êxtase notório nos presentes e constituiu provavelmente o auge do concerto, havendo até tempo para “Forgotten”, uma antiguinha do primeiro álbum, tocada logo antes da também clássica “Black Skull Crushing Metal”. Podíamos dizer que este foi o mimo especial de MI para nós, se eles parecessem do género fofinho. Bem, são-no moderamente: o palco foi invadido por dois indivíduos mais ousados e imediatamente expulsos pelo baterista, esclarecendo depois que apesar de apreciarem o entusiasmo do público preferiam que ninguém subisse ao palco. Lá porque a missa é negra não quer dizer que não haja respeitinho.
Para concluir as festividades, subiram ao palco Sardonic Witchery – nesta noite, King Demogorgon acompanhado de membros de Sonneillon BM – iluminados por chamas bruxuleantes, que geravam o ambiente propício à pregação maldita. A ânsia de os ver fez com que até fossem perdoáveis os clichés de um discurso de unificação em que, invariavelmente, somos todos temíveis guerreiros, e a exibição de uma cabeça de porco ensanguentada; o que não é tão perdoável é a brevidade do concerto. Ainda que seja de referir a boa prestação da banda, e não tivessem sido esquecidas as imprescindíveis “Nihilistic Flames” e “Altar of Pagan Gods”, causadoras de violento headbang por toda a sala, quase sentimos que as interacções com o público ocuparam tanto tempo quanto a parte musical do concerto. O motivo é simples: uma one-man band, numa curta passagem por outro país (Portugal pode ser a sua casa, mas a sua residência é no Texas), pode ter dificuldade em reunir as condições para se preparar com outros músicos. Sonneillon BM deram na mesma noite um concerto bastante longo e tornou-se evidente que o tempo para preparar o concerto de Sardonic Witchery foi escasso, deixando dezenas de súbditos desconsolados e a voltar para casa com o pescoço bem menos massacrado do que poderia ter sido se a noite tivesse exigido mais deles. Esperamos, ainda assim, que o regozijo evidente em King Demogorgon quando confrontado com uma mistura de velhos conhecidos e novas caras o motive a regressar para um concerto que nos deixe saciados.