Texto: António Pereira
A abrir o espetáculo a uma hora já tardia – aproximava-se então a meia-noite – os Stone Dead mostraram ser o aquecimento perfeito para a noite que já ia longa. Este quarteto de Alcobaça tem energia para dar e vender, e não demorou muito para que o seu rock sujo de garagem regado a blues – inclusive com direito a harmónica e slide - contagiasse o público e até proporcionasse alguns dançarios menos ortodoxos em frente ao palco. Uma prestação frântica e cheia de intensidade, em que não faltaram escarretas pelo ar, pratos derrubados e, a culminar o set, uma guitarra a ser arremessada contra a bateria. Por pouco não roubavam a festa àqueles a quem ela pertencia por direito.
Já perto da uma da manhã, o início do concerto dos Killimanjaro era anunciado com uma música synthpop à série dos anos oitenta – provavelmente a primeira vez em que um sintetizador daqueles se fez ouvir naquela casa. Liderados por um José cuja indumentária evocava um certo ar de xerife de Miami Beach à paisana (ou se calhar era só a influência do synthpop ainda a quente), o trio não perdeu tempo e deixou as paisagens balneares para se aventurar em cavalgadas brutas através de territórios inóspitos. Foi uma hora do stoner tecnicista que já se reconhece como marca registada dos Killimanjaro, com muitos riffs sincopados e ganchos de fazer morder a língua (curiosamente um “tique” do guitarrista/vocalista José), um som por vezes a fazer lembrar Red Fang ou até mesmo Maiden da fase Di'Anno, com uns momentos mais bluesy a puxar a uns Graveyard. O EP “Shroud” foi tocado na íntegra e ainda se revisitaram temas já bem conhecidos do álbum de 2014 “Hook”, como “December”, a música que os deu a conhecer ao mundo ao aparecer no anúncio do WTF.
Já perto do final, a banda fez uma graça e, à falta de álbuns, atirou para o público umas quantas embalagens de meias. Continuando esta aparente veia de humor auto-irónico, os Killimanjaro terminaram o concerto com uma cover de “Wicked Game”, do Chris Isaak. Fechou-se o círculo: depois da aventura no bravio, o regresso à segurança melosa da civilização, e a sensação de dever cumprido. José tinha dito, a propósito da falta dos EPs, que não queria que aquele fosse apenas “mais um concerto”, e o seu desejo foi realizado: tanto para a banda como para os muitos fãs presentes que deliraram com o concerto, esta foi com certeza uma noite especial.