Texto: Joana Ribeiro
Fotos: Daniel Sampaio
A assistência de CHAOSxA.D. parecia algo tímida, mas logo de início a banda das Caldas, apesar de recente, mostrou não ter dificuldades em fazer a festa. A fusão de crust/grind/hardcore garantiu-lhes a atenção dos presentes quaisquer que fossem as suas preferências musicais, sempre com uma reminiscência de Disrupt a espreitar a cada tema tocado, tendo terminado até com uma cover dos mesmos que teve boa recepção da parte do público que, agora sim, estava devidamente aquecido. Foi uma boa prestação, não obstante o facto de ainda estarem um pouco “verdes” e de serem dispensáveis algumas atitudes como o atirar dos instrumentos para o chão num final de concerto talvez demasiado teatral.
Com a bateria toda carregada e pouca vontade para conversas vinham BAD!, preferindo comunicar através da energia encolerizada do hardcore dos 80’s. Este concerto teria feito com que os Minor Threat esboçassem um sorriso, o que só por si já é bastante descritivo. Como a banda anterior, recorreu a covers, o que se revelou uma boa estratégia de aproximação de um público que não parecia muito familiarizado com eles, imediatamente concentrado em unir esforços para cantar “Tied Down” de Negative Approach a uma só voz.
Seguiram-se Manferior, ex-Phil Goes Down. Deito-me a adivinhar que a mudança de nome tenha estado relacionada com um upgrade também no som, perceptível no último “Corporate Scum” em relação aos trabalhos anteriores. A sua actuação foi uma implacável descarga de powerviolence, mais trabalhado e com uma sonoridade mais hardcore, afastando-se convenientemente de cópias insossas de Infest como é comum neste género. Houve tareia saudável entre os que assistiam, e não é isso que interessa, afinal?
Booze Abuser não teriam a tarefa facilitada, estando ligeiramente deslocados do restante cartaz e tendo sofrido com um som algo abafado. A banda de thrash conseguiu, pelo menos, desfazer os preconceitos existentes em relação a Cascais, que não é só terra de gente fina como também de thrash porco com sede de cerveja e degredo. Não tendo obtido uma resposta tão entusiasta como as bandas anteriores, ainda houve quem se mostrasse adepto do “noise for the drunk” e é de destacar a atitude e energia dos thrashers.
O evento teria continuado a decorrer normalmente não fosse a presença da polícia, que mandava baixar o volume da festa (como se isso fosse uma opção). Não fosse a perturbação causada num evento que custou tempo e suor a organizar e o stress de ter de arranjar outra solução de espaço para a continuação dos concertos, quase teríamos rido do cliché que é a intervenção da polícia num festival de punk. Mas após um breve momento de confusão, veredicto: a festa continuaria a umas portas de distância, passando do Be Fado para o Be 51, sendo necessária a força braçal de todos para carregar instrumentos e demais parafernália para o novo local. Mais uma vez se verificou: a cooperação entre todos é muito bonita e ajudou a conseguir que o nosso estimado Corrosion não tivesse um fim precoce.
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Já com uns respeitáveis 20 anos de carreira, Cabeça de Martelo são daquelas bandas chamativas em qualquer cartaz. Liderados por uma vocalista que pisava o palco com agressividade numa proporção inversa ao seu tamanho, deram continuação à balbúrdia instalada por Repressão Caótica, tendo sido das que mais adesão do público teve, com “Trust Nobody” e “Clown” a afirmarem-se como verdadeiros hinos das suas origens inconfundivelmente punk.
A encerrar a noite, Coffin, banda australiana pela primeira vez em Portugal. A sensação geral era a de que ninguém era particularmente conhecedor da banda, predominando antes a curiosidade. E parece que foi uma surpresa bem positiva: Coffin mostraram não ser a average punk band, misturando elementos típicos deste género com influências stoner, psicadélico e puro rock’n’roll. O baixo serpenteante obrigou a um mosh mais dançante, em que era quase impossível não escorregar na cerveja derramada e contavam-se alguns corajosos a tentar acrobacias no skate, tudo delirante – sobretudo depois de um inusitado medley que contou com excertos de “Master of Puppets”, “Angel of Death” e “Ace of Spades” – a pedir que tocassem “só mais uma” vezes sem conta. Infelizmente os festejos não podiam prolongar-se noite dentro e o set dos australianos teve menos de meia hora, ficando pelo menos a garantia de que foi uma meia hora bem intensa e suada.
Mesmo com contratempos, o Corrosion revela-se um importante festival no panorama nacional, sobretudo numa cidade onde concertos underground são escassos, começando já a aventurar-se a incluir bandas internacionais no cartaz e promete continuar a crescer.