"Um daqueles concertos contemplativos que nos faz admirar a nossa própria respiração."
Texto: Gustavo Silva
Fotos: Daniel Sampaio
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No último tema do grupo, devido a uma avaria na guitarra de um dos músicos, a banda viu-se reduzida a 3 elementos, que não se mostraram de todo afectados pelo sucedido e deram tudo, numa autêntica avalanche de distorção e atitude em cima do palco. De admirar esta postura relaxada lidando com o imprevisto, sendo que este tipo de incidências contribui para o desenvolvimento de um músico que muitas vezes é confrontado com situações completamente inesperadas nas prestações ao vivo. Ficamos a ansiar pelo primeiro longa duração da banda, que deixou excelentes indicações nesta actuação.
Os Then They Flew, quinteto instrumental oriundo de Lisboa constituídos por Bernardo Sampaio, Gonçalo Paiva e Ricardo Almeida nas guitarras, Marcos Janela no baixo e Pedro Melo Alves na bateria, editaram aquele que foi considerado um dos álbuns de post rock do ano 2015 por muitos dos orgãos mediáticos do estilo, “Stable as the Earth Stops Spinning”. Foi este trabalho a base da actuação, tocando o álbum na íntegra.
Aqui todo o set foi instrumental. A experiência dos membros nestas lides é já notória, sendo que o entrosamento entre todos os elementos é evidente e a vertente técnica da banda irrepreensível. Com recurso a várias camadas de reverb, delay, samples, shimmer e efeitos de eco, a banda transportou a cave para o coração do cosmos, abraçado pela ambiência celestial que pauta o referido disco, sendo que as alusões a Mogwai ou Explosions in the Sky são inevitáveis, mas não de todo dispensáveis. É um concerto que convida ao sentimento, à melancolia, ao copo de vinho em detrimento do fino, à introspecção e à calmaria, sendo este sentimento de leveza interrompido pelas secções de distorção, com elementos mais progressivos (aquela t-shirt de Opeth fez todo o sentido durante a execução do último tema da noite, “Owls”) e com crescendos de fazer arrepiar a espinha. A execução foi irrepreensível, sendo que apenas há que notar que por vezes o som parecia ficar algo embrulhado graças às características do próprio espaço e das inúmeras camadas de efeitos. Os grandes destaques da actuação para a “Rooftop” e “An Enemy Will Bring Us Together”, faixas que atestam a avançada capacidade criativa da banda, representando autênticas viagens sonoras.. Um daqueles concertos contemplativos que nos faz admirar a nossa própria respiração. Aguardamos novo concerto, com apresentação de novo álbum, o mais depressa possível.
A encerrar a ordem de trabalhos, André Mendes e Ângelo Carvalho, em representação da Amplificasom, brindaram os resistentes com um dj set alusivo ao Amplifest 2016, que conta com um dos cartazes mais promissores e ecléticos que Portugal já conheceu desde que há memória em termos do espectro mais extremo da música. Já faltaram meses para o evento, mas quantos mais dias passam mais dolorosa se torna a espera. Lá estaremos, para comungar da qualidade musical a que estamos habituados por parte do André e companhia.