Os WAKO são já uma das bandas mais respeitadas no panorama nacional e, desde muito cedo na sua carreira, começaram também a dar cartas. A Portuguese Distortion esteve à conversa com Nuno Rodrigues, o sempre enérgico vocalista da banda, e o resultado está disponível aqui.
Entrevista por: Bruno Correia
Entrevista por: Bruno Correia
Portuguese Distortion - Começando pelo início, em que momento da vida da formação original decidiram começar com os, na altura, "Outrage"?
Nuno Rodrigues - Isso é mesmo revisitar aqueles momentos já de pré-adolescência (risos). O pessoal andava no liceu, toda a gente curtia som e chegou aquela altura em que todos pensámos "já que gostamos tanto de som e há tanto esta partilha mútua, porque não pegarmos nos instrumentos e começarmos a tocar?". Começou como algo muito inocente que conseguimos transformar em alguma coisa sólida.
PD - Avançando uns anos, e já enquanto WAKO, lançaram o vosso primeiro EP, "Symbiotic Existence", e têm trabalhado desde aí com o Daniel Cardoso enquanto produtor de todos os vosso lançamentos, até ao dia de hoje. Qual é a importância que atribuis ao Daniel no resultado final dos vossos discos?
NR - O Daniel, além de ser o produtor e o músico reconhecido que é, é uma pessoa que acompanhou todo o processo inicial da banda. A banda cresceu praticamente ao mesmo tempo em que ele estava a crescer enquanto produtor e o Daniel conseguiu compreender a nossa interpretação musical, as nossas capacidade e as nossas limitações. Fomos cada vez mais aprendendo com ele, e ele sabia cada vez mais caracterizar a banda da forma que nós queríamos. É alguém que eu vejo quase como um elemento da banda. Além de sermos amigos, este é um trabalho que vem já desde 2004, pelo que há já uma ligação muito forte entre nós - já não precisamos de estar em estúdio a "balbuciar" riffs ou a tentar explicar o que quer que seja, ele é uma pessoa bastante participativa e entende tudo o que nós queremos. Só no "The Road of Awareness" é que, apesar da produção e captação terem sido feitas pelo Daniel, optámos por mixar e masterizar com o Josh Wilbur, numa tentativa de arriscar e ter uma experiência diferente. Tirando isso, temos sempre trabalhado com o Daniel Cardoso em tudo o que fazemos.
PD - Pegando nessa última ideia, e uma vez que eu ia perguntar mais à frente sobre o Josh, foi difícil convencê-lo a mixar e masterizar o vosso 2º álbum? Conta-nos um pouco sobre como o abordaram e como é que as coisas se desenvolveram.
NR - Foi muito fixe porque isto foi na altura do Myspace (risos). Todos pensámos "este produtor é de topo, já gravou Lamb of God, tem um currículo extremamente vasto, etc..". Nós na altura tínhamos acabado uma tour nos Estados Unidos e tínhamos assinado com a Dean Guitars, pelo que estávamos a tentar fazer uma ponte de ligação para a América do Norte. O Josh estava a explodir, nós abordámo-lo pelo Myspace e ele adorou o nosso som. Estávamos à espera que ele nem sequer se desse ao trabalho de responder mas ele gostou bastante e aceitou logo à primeira. Foi uma experiência que deu os seus frutos mas foi um investimento enorme, ainda que saiba que ele não praticou os preços normais para a realidade das bandas que ele normalmente produz.
PD - Sentes que valeu a pena o esforço?
NR - Sim, sem dúvida, apesar da repercussão, na altura, não ter sido a que nós queríamos. Saíram vários elementos importantes da banda e o grupo separou-se e esteve parado durante quase um ano. Se tivéssemos mantido a formação original, acredito que a repercussão teria sido maior. Ainda assim, foi um bom investimento. É como fazeres uma tour, investires num grande artwork ou produzires um grande videoclip, aquele era mais um passo em termos de expansão, nada mais.
PD - Falando dessa fase, em que houve alguns problemas com a formação, os membros que ficaram na banda alguma vez pensaram que o melhor seria desistir ou, depois de tudo o que tinham feito, isso nem sequer vos passou pela cabeça?
NR - Claro que passou pela cabeça. Quando saem 3 elementos, 3 pilares, eu pensei que se calhar não era capaz de tomar as rédeas da banda. Não quero dizer que a saída deles foi boa, obviamente, mas fez-me crescer e amadurecer. Foi a partir daí que consegui agarrar na banda e assumir o que queria com os WAKO. Há sempre aquele período de desmotivação em que é inevitável pensar "o que é que fazemos agora?", mas passado um tempo pensamos "temos o álbum nas mãos, custou-nos imenso, temos tudo preparado,... Agora é encontrar os músicos certos e voltar à estrada". Em termos pessoais, acho que a situação me fez crescer bastante como músico e em tudo o que um músico tem de ser - promotor, RP, etc.
PD - Voltando um pouco, num momento em que tinham apenas lançado o primeiro EP e uma demo, conseguiram somar mais de 200 atuações, algumas com bandas de renome mundial. A que é que atribuis este rápido sucesso dos WAKO?
NR - Tentando ser humilde, eu sei que os WAKO tiveram um papel importante naquela nova tradição do "Metal moderno". Na altura, o facto de sermos um bocado "tontinhos" e de querermos fazer tudo com a banda ajudou a atingir isso. Nós éramos putos, vínhamos daquela era pós-Sepultura e a nossa paixão era muito forte na altura. Tivemos a sorte das pessoas certas gostarem de nós e, daquilo que apostámos, conseguimos ter os frutos na altura.
PD - Em 2007, entraram nos Ultrasound Studios e saíram com um álbum de estreia. É uma sensação diferente, a de lançar o primeiro longa-duração?
NR - Sim. Como se costuma dizer, o álbum é a revelação do teu trabalho e a pressão era muito grande, pois sabíamos que tínhamos lançado um bom EP. Já tínhamos tocado bastante ao vivo e era inevitável pensar no que é que se iria seguir ao lançamento do álbum, que acabou por ser um acumular de todas essas experiências, de uma forma amplificada. A estreia correu muito bem, conseguimos algumas tours e contratos importantes e o álbum trouxe uma certa mudança no Metal nacional. Lembro-me que depois dos WAKO gravarem o primeiro álbum, foram muitas as bandas que começaram a gravar com o Daniel Cardoso. Era possível ver que alguma coisa estava a mudar, muito devido à produção do disco, que soa altamente moderna e um passo acima, comparativamente ao que se fazia na altura. Sinto que o álbum de estreia foi o que nos abriu as portas e que vincou o nome dos WAKO neste meio.
PD - Há pouco falaste das tours que conseguiram como consequência do lançamento de "Deconstructive Essence". Como é que foi ter oportunidade de fazer uma tour, como cabeças cartaz, em locais tão desejados como o Reino Unido ou os Estados Unidos da América?
NR - Bom, como eu disse, foi um impacto inesperado do primeiro álbum. Fomos convidados pela Dean Guitars, que nos disseram que se lhes quiséssemos fazer uma visita, nos arranjavam algumas datas. A partir do momento em que começámos a ser os "novos meninos da Dean", o pessoal começou a interessar-se e a agenciar outras concertos. É claro que há sempre coisas más em todas as tours, mas tentando focar-me nas boas, e tendo em conta que foi a primeira tour, não posso dizer que correu mal. Correu bastante bem!
PD - Mesmo a nível da receção do público, sentiram que o pessoal estava a gostar?
NR - Sim, sem dúvida. Uma coisa muito curiosa quando fomos ao Reino Unido, naquela que era a nossa primeira tour lá, foi ver fãs que já traziam o cd para nós assinarmos. É inevitável pensar "isto está a acontecer"! Nem que fossem 2 ou 3 pessoas por cada concerto, mas sentíamos que algo estava a acontecer naquele momento e que estávamos a conseguir chegar a algum lado. Os tempos agora são mais complicados e não conseguimos repetir essa experiência tantas vezes quantas gostaríamos, mas com o novo álbum o nosso foco será apostar muito mais lá fora.
PD - Para terminar, não resisto a uma pergunta mais "filosófica" (risos). Sentes que a humanidade, de uma forma geral, está mesmo a matar-se a si própria ou o vosso nome, "We Are Killing Ourselves", é decidado apenas à banda, em específico?
NR - (risos) Não, é mesmo dedicado a tudo o que nos envolve. A toda a realidade, a todos os alicerces obscenos e obsoletos que suportam todas as éticas e valores morais, ao instinto do Homem e a todo o processo de auto-destruição, à procura insana por algo ancestral ou divino e ao desejo do Homem de se colocar nesse papel para depois perceber que poderá destruir tudo. "We Are Killing Ourselves", WAKO! Pode ser um maluco, não é? (risos) Essa antítese funciona bem porque parte de um significado e culmina noutro - é o caminho da insanidade (WAKO) para chegar a We Are Killing Ourselves. Eu acho que é esse o processo realista de todo o ser-humano.
Ainda assim, neste momento eu já não vejo WAKO como uma crítica mas sim como uma consciencialização desses valores. Ao início tínhamos mais aquela revolta, mas agora vejo isso mais como uma tomada de consciência, estamos todos a ruir por dentro e exteriormente e esta é a nossa "wake up call". Há mais bandas a fazer isso, esta é a nossa forma de apelar ao pessoal para não se deixar de preocupar com a vida e com o que se passa à nossa volta. Mantenham os vossos valores e tentem descobrir algo de bom dentro do Homem.
PD - Apesar do significado do nome da banda se ter alterado, a verdade é que passaram 13 anos e o nome continua a fazer sentido . Isso é preocupante ou é, de certa forma, inevitável?
NR - Eu acho que é inevitável (risos). Essa mutação do nome, tal como estava a dizer, é, ela própria, uma tomada de consciência e apesar de poder ser assustador pensar que passaram 13 anos e nada mudou, a verdade é que as coisas estão a mudar e cada vez há mais pessoas com muito mais consciência, com mais perceção da realidade e com mais sensibilidade perante as coisas.