"Uma coisa única… em 30 anos de concertos nunca tinha tido essa reação."
Entrevista por: Daniel Sampaio
Fotografia: Alexandre Paixão
Entrevista por: Daniel Sampaio
Fotografia: Alexandre Paixão
No passado mês de abril, os Mão Morta deram quatro concertos inéditos com a Remix Ensemble, numa iniciativa que transfigurou completamente 13 temas da banda. Na impossibilidade de cobrirmos os eventos, falámos com Adolfo Luxúria Canibal acerca destas datas e do que fez delas tão especiais.
Portuguese Distortion - Como é que surgiu a iniciativa de começar a trabalhar com o Remix Ensemble?
Adolfo Luxúria Canibal - Tudo começou com um convite do Theatro Circo aos Mão Morta para apresentar um espetáculo especial de encerramento das comemorações do seu centésimo aniversário. Não tínhamos nada de especial em carteira mas lembrámo-nos da experiência que tivemos com uma orquestra no encerramento do Guimarães 2012: Capital Europeia da Cultura. Foi uma experiência que nos deixou com alguma vontade de trabalharmos nessa via, sobre esse registo. Não naquele sentido mais comum de quando as bandas rock trabalham com orquestras para dar mais corpo ao som da banda e que no fundo tratam a orquestra quase como um coro de fundo... não era assim que nós queríamos trabalhar. Queríamos trabalhar com uma orquestra de modo a que houvesse efetivamente uma mais-valia, uma disputa, uma espécie de “embate” no qual a música pudesse ganhar uma outra dimensão, e não adicionar apenas um som sinfónico por detrás. A única orquestra capaz de tal, com capacidade para responder positivamente a um desafio destes é a Remix Ensemble – que não é propriamente uma orquestra, é um ensemble, uma “orquestra” mais reduzida, mas é um grupo habituado a tocar música contemporânea e que não se limita a ler pautas, ou seja, lê pautas também, mas sabe improvisar e sabe ler inscrições contemporâneas, signos que não são propriamente notas musicais.
E portanto propusemos ao Theatro Circo fazer um espetáculo com a Remix Ensemble. Sabíamos que a Remix habitualmente não faz colaborações deste género, sabíamos mesmo que a Remix já tinha recusado algumas colaborações com outros conjuntos, portanto havia sempre umas reticências. Contra todas as nossas expectativas e contra todos os nossos temores abraçou a ideia imediatamente, adorou a perspetiva e foi assim que avançámos com este trabalho. É evidente que isto implicava que houvesse um trabalho de composição e de orquestração que nós, Mão Morta, não estamos capacitados para fazer, de maneira que tentámos pensar num músico de escola erudita que tivesse apetências com a música contemporânea e que gostasse de rock e de música mais popular, mais violenta… que pudesse de alguma forma conciliar isso com a intensidade do lado menos melódico, mais experimental da música contemporânea. Encontrámos essa pessoa no Telmo Marques, um pianista do Porto ligado à música erudita e que já tinha feito algumas colaborações na área do pop, nomeadamente com os GNR, mas que era sobretudo uma pessoa muito ligada à música contemporânea. Fomos falar com ele, demos-lhe carta-branca e ele fez um trabalho extraordinário de arranjo e de orquestração de músicas de Mão Morta.
Como é que decidiram que temas incluir e quais deixar de fora?
Fizemos a escolha dos temas em conjunto, pensando em temas que de alguma forma fossem significativos para os Mão Morta, para a sua história de 30 anos, mas sobretudo suscetíveis de sofrer esta alteração profunda com a intervenção de uma ensemble contemporânea, uma intervenção radical no sentido em que criasse uma nova entidade no próprio tema. O Telmo já conhecia alguns temas e conhecia muito bem a Remix – nós não sabíamos muito bem até que ponto é que a Remix conseguia improvisar, e ele disse-nos que eles improvisam lindamente, sem problema nenhum, e nós temos temas que podiam dar azo a essa improvisação, tanto dos Mão Morta (com estruturas que são apenas marcações e que, quando os Mão Morta os tocam ao vivo, normalmente improvisam) e onde pudéssemos deixar a Remix também improvisar a partir das marcações. Temos 2 temas desses, o “Destilo Ódio” e o “Aum”, e depois temos temas onde podemos entrar com a fúria e com as dissonâncias típicas dos Mão Morta, temas mais pesados onde essa massa sonora podia ser amplificada e tornada ainda mais intensa, como o “Hipótese de Suicídio” ou o “Vamos Fugir”. Tentámos preencher todas as potencialidades de exploração do som e do embate entre a música popular e a música erudita nas suas conceções mais contemporâneas. De um lado o rock mais avant-garde, mais experimental dos Mão Morta, e por outro lado a música erudita e vanguardista, o lado experimental da música contemporânea que a Remix está habituada a tocar.
Revisitaram temas que já não tocavam há bastante tempo ou ainda estava tudo fresco na memória?
Houve temas que já não tocávamos há muito tempo e tivemos de recuperar, outros temas que faziam parte do nosso alinhamento habitual, bem como temas que já não tocamos mas que tocávamos há 2, 3 anos. Mas logo o tema de abertura a seguir à Intro, o “Humano”, já não tocávamos desde o início do século, portanto há uns 15 anos, desde o lançamento do “Primavera de Destroços”. Já o “1º de Novembro” por exemplo é um tema com que normalmente encerramos o nosso concerto nos últimos dois ou três anos e mais uma vez coube-lhe aqui encerrar esta colaboração com a Remix.
Tendo em conta que há alguns temas mais propensos à improvisação, que conduzem a resultados diferentes, como é que correram então estes quatro concertos?
Os concertos correram muito bem, a distinção entre os concertos teve mais a ver com as salas em si. Os melhores, do nosso ponto de vista, foram o primeiro e o último, no Theatro Circo em Braga e na Casa da Música no Porto, por uma razão muito simples: estavam ambos com sala esgotada e estavam ambos com bom som. No concerto no Theatro Circo, sendo o primeiro, ainda estávamos com algumas incertezas, mas acho que não se notou em demasia. No concerto de encerramento, na Casa da Música, já estávamos perfeitamente à vontade, com um nível de coesão extraordinário. O concerto de Coimbra foi um concerto que correu lindamente, mas a sala era nova e penso que não conseguimos captar a essência, toda a potencialidade da relação Mão Morta + Remix na sua excelência…
Mas suponho que a experiência em si, pela sala [Convento São Francisco], tenha sido interessante…
Foi, e as pessoas adoraram… Foi a maior sala das quatro e estava cheia, não estava esgotada por uma unha negra. E a reação das pessoas foi extraordinária. Agora, eu acho que a reação podia ter sido ainda mais extraordinária, ao nível do que foi a reação em Braga ou na Casa da Música, de um sorriso rasgado, de uma satisfação que se via nos olhares e na forma como as pessoas aplaudiam de pé, com uma enorme alegria por terem experienciado aquele concerto. Uma coisa única… em 30 anos de concertos nunca tinha tido essa reação de uma forma tão notória, tão flagrante. Não era bem euforia, era uma espécie de felicidade na cara das pessoas, uma coisa muito estranha. Acho que os Mão Morta nunca tinham criado felicidade a não ser nesses concertos com a Remix. Já criaram muita coisa, já criaram tumultos, já criaram fúria, mas algo como o que criaram no concerto do Theatro Circo acho que nunca tinha acontecido. Em Coimbra, apesar da alegria toda e do aplaudir de pé, etc., etc., faltava-lhe aqueles pormenores que não conseguimos transmitir porque o som não ficou tão bom. No concerto em Lisboa o som estava bom, mas a Aula Magna é uma sala grande, agradável quando está cheia, mas estava a menos de metade e isso sente-se. A reação foi boa, obrigaram-nos a um encore que não estava previsto acontecer, mas com esse amargo de termos uma sala semivazia (ou meia-cheia, dependendo do ponto de vista)… é o único problema que faz com que Lisboa não esteja também no top 2 [risos].
Tendo sido a experiência tão positiva, há intenções de gravar um novo álbum ao vivo ou de trabalhar as músicas com uma roupagem diferente para um álbum em estúdio?
Isto foi gravado… nós fizemos apenas dois ensaios conjuntos, de Mão Morta & Remix. Fizemos ensaios só entre nós para nos adaptarmos às novas dinâmicas e marcações, mas em conjunto com a Remix apenas fizemos dois ensaios. Um para testar problemas a nível sonoro, nomeadamente porque a Remix não está habituada a tocar com amplificação e aqui foi obrigada a tocar com amplificação e monição, portanto obrigada a adaptar-se a um novo habitat sonoro, e tínhamos que ter alguma cautela para que o som amplificado dos Mão Morta não invadisse o espaço da Remix, impedindo os músicos da Remix de se ouvirem. E depois um ensaio para limar os pormenores, etc. Mas estava eu a dizer que foi gravado o primeiro concerto, no Theatro Circo, e foi gravado também este segundo ensaio. Portanto depende do que ficou gravado, mas em princípio as coisas estarão lá para serem editadas, essa hipótese está em cima da mesa.
Os Mão Morta de facto já disseram no passado que habitualmente não fazem muitos ensaios, e imagino que gostem de chegar ao palco e ver como é que corre, sendo cada concerto diferente.
Sim, gostamos, mas também não fazemos muitos ensaios porque os ensaios são caríssimos. Vivemos cada um no seu canto, ensaiamos em Braga e trazer toda a gente para Braga fica caro e limitamos isso ao mínimo. Também é verdade que há um lado de descoberta por termos tão poucos ensaios antes de tocarmos ao vivo que nos agrada muito e que nos pode levar a sítios que, normalmente, quando as coisas estão muito rotinadas, não acontece porque tendemos a reproduzir o que já sabemos de cor e salteado. Aqui as coisas sabem-se, mas há sempre uma espécie de adrenalina, de insegurança, de incerteza, que para nós é muito importante num espetáculo ao vivo.
Para terminar, tendo em conta que a experiência foi tão agradável, isso dá-vos vontade de se moverem nessa direção num próximo álbum de estúdio?
O “Nus”, por exemplo, já era um álbum mais orquestral e com cordas (estranhamente, desse álbum apenas tocámos um tema, nesta série de espetáculos com a Remix), por isso já tínhamos explorado essas sonoridades mais orquestradas, nesse sentido. Mas esta experiência com a Remix correu tão bem e adorámos tanto – não só nós mas os músicos da Remix, que estavam delirantes e ficaram com vontade de trabalhar mais com os Mão Morta – como agora os responsáveis da Casa da Música, face ao resultado que viram no espetáculo, no final disseram-nos que isto tem de ser repetido, portanto há uma vontade tanto da Remix, como da nossa parte, como da Casa da Música de explorar mais este caminho, seja retomando isto que fizemos, de alguma forma, seja explorando esta colaboração em originais, construindo obras de raiz para Mão Morta e Remix. São possibilidades em aberto, há essa vontade manifestada, vamos ver se se concretiza ou não.
Portuguese Distortion - Como é que surgiu a iniciativa de começar a trabalhar com o Remix Ensemble?
Adolfo Luxúria Canibal - Tudo começou com um convite do Theatro Circo aos Mão Morta para apresentar um espetáculo especial de encerramento das comemorações do seu centésimo aniversário. Não tínhamos nada de especial em carteira mas lembrámo-nos da experiência que tivemos com uma orquestra no encerramento do Guimarães 2012: Capital Europeia da Cultura. Foi uma experiência que nos deixou com alguma vontade de trabalharmos nessa via, sobre esse registo. Não naquele sentido mais comum de quando as bandas rock trabalham com orquestras para dar mais corpo ao som da banda e que no fundo tratam a orquestra quase como um coro de fundo... não era assim que nós queríamos trabalhar. Queríamos trabalhar com uma orquestra de modo a que houvesse efetivamente uma mais-valia, uma disputa, uma espécie de “embate” no qual a música pudesse ganhar uma outra dimensão, e não adicionar apenas um som sinfónico por detrás. A única orquestra capaz de tal, com capacidade para responder positivamente a um desafio destes é a Remix Ensemble – que não é propriamente uma orquestra, é um ensemble, uma “orquestra” mais reduzida, mas é um grupo habituado a tocar música contemporânea e que não se limita a ler pautas, ou seja, lê pautas também, mas sabe improvisar e sabe ler inscrições contemporâneas, signos que não são propriamente notas musicais.
E portanto propusemos ao Theatro Circo fazer um espetáculo com a Remix Ensemble. Sabíamos que a Remix habitualmente não faz colaborações deste género, sabíamos mesmo que a Remix já tinha recusado algumas colaborações com outros conjuntos, portanto havia sempre umas reticências. Contra todas as nossas expectativas e contra todos os nossos temores abraçou a ideia imediatamente, adorou a perspetiva e foi assim que avançámos com este trabalho. É evidente que isto implicava que houvesse um trabalho de composição e de orquestração que nós, Mão Morta, não estamos capacitados para fazer, de maneira que tentámos pensar num músico de escola erudita que tivesse apetências com a música contemporânea e que gostasse de rock e de música mais popular, mais violenta… que pudesse de alguma forma conciliar isso com a intensidade do lado menos melódico, mais experimental da música contemporânea. Encontrámos essa pessoa no Telmo Marques, um pianista do Porto ligado à música erudita e que já tinha feito algumas colaborações na área do pop, nomeadamente com os GNR, mas que era sobretudo uma pessoa muito ligada à música contemporânea. Fomos falar com ele, demos-lhe carta-branca e ele fez um trabalho extraordinário de arranjo e de orquestração de músicas de Mão Morta.
Como é que decidiram que temas incluir e quais deixar de fora?
Fizemos a escolha dos temas em conjunto, pensando em temas que de alguma forma fossem significativos para os Mão Morta, para a sua história de 30 anos, mas sobretudo suscetíveis de sofrer esta alteração profunda com a intervenção de uma ensemble contemporânea, uma intervenção radical no sentido em que criasse uma nova entidade no próprio tema. O Telmo já conhecia alguns temas e conhecia muito bem a Remix – nós não sabíamos muito bem até que ponto é que a Remix conseguia improvisar, e ele disse-nos que eles improvisam lindamente, sem problema nenhum, e nós temos temas que podiam dar azo a essa improvisação, tanto dos Mão Morta (com estruturas que são apenas marcações e que, quando os Mão Morta os tocam ao vivo, normalmente improvisam) e onde pudéssemos deixar a Remix também improvisar a partir das marcações. Temos 2 temas desses, o “Destilo Ódio” e o “Aum”, e depois temos temas onde podemos entrar com a fúria e com as dissonâncias típicas dos Mão Morta, temas mais pesados onde essa massa sonora podia ser amplificada e tornada ainda mais intensa, como o “Hipótese de Suicídio” ou o “Vamos Fugir”. Tentámos preencher todas as potencialidades de exploração do som e do embate entre a música popular e a música erudita nas suas conceções mais contemporâneas. De um lado o rock mais avant-garde, mais experimental dos Mão Morta, e por outro lado a música erudita e vanguardista, o lado experimental da música contemporânea que a Remix está habituada a tocar.
Revisitaram temas que já não tocavam há bastante tempo ou ainda estava tudo fresco na memória?
Houve temas que já não tocávamos há muito tempo e tivemos de recuperar, outros temas que faziam parte do nosso alinhamento habitual, bem como temas que já não tocamos mas que tocávamos há 2, 3 anos. Mas logo o tema de abertura a seguir à Intro, o “Humano”, já não tocávamos desde o início do século, portanto há uns 15 anos, desde o lançamento do “Primavera de Destroços”. Já o “1º de Novembro” por exemplo é um tema com que normalmente encerramos o nosso concerto nos últimos dois ou três anos e mais uma vez coube-lhe aqui encerrar esta colaboração com a Remix.
Tendo em conta que há alguns temas mais propensos à improvisação, que conduzem a resultados diferentes, como é que correram então estes quatro concertos?
Os concertos correram muito bem, a distinção entre os concertos teve mais a ver com as salas em si. Os melhores, do nosso ponto de vista, foram o primeiro e o último, no Theatro Circo em Braga e na Casa da Música no Porto, por uma razão muito simples: estavam ambos com sala esgotada e estavam ambos com bom som. No concerto no Theatro Circo, sendo o primeiro, ainda estávamos com algumas incertezas, mas acho que não se notou em demasia. No concerto de encerramento, na Casa da Música, já estávamos perfeitamente à vontade, com um nível de coesão extraordinário. O concerto de Coimbra foi um concerto que correu lindamente, mas a sala era nova e penso que não conseguimos captar a essência, toda a potencialidade da relação Mão Morta + Remix na sua excelência…
Mas suponho que a experiência em si, pela sala [Convento São Francisco], tenha sido interessante…
Foi, e as pessoas adoraram… Foi a maior sala das quatro e estava cheia, não estava esgotada por uma unha negra. E a reação das pessoas foi extraordinária. Agora, eu acho que a reação podia ter sido ainda mais extraordinária, ao nível do que foi a reação em Braga ou na Casa da Música, de um sorriso rasgado, de uma satisfação que se via nos olhares e na forma como as pessoas aplaudiam de pé, com uma enorme alegria por terem experienciado aquele concerto. Uma coisa única… em 30 anos de concertos nunca tinha tido essa reação de uma forma tão notória, tão flagrante. Não era bem euforia, era uma espécie de felicidade na cara das pessoas, uma coisa muito estranha. Acho que os Mão Morta nunca tinham criado felicidade a não ser nesses concertos com a Remix. Já criaram muita coisa, já criaram tumultos, já criaram fúria, mas algo como o que criaram no concerto do Theatro Circo acho que nunca tinha acontecido. Em Coimbra, apesar da alegria toda e do aplaudir de pé, etc., etc., faltava-lhe aqueles pormenores que não conseguimos transmitir porque o som não ficou tão bom. No concerto em Lisboa o som estava bom, mas a Aula Magna é uma sala grande, agradável quando está cheia, mas estava a menos de metade e isso sente-se. A reação foi boa, obrigaram-nos a um encore que não estava previsto acontecer, mas com esse amargo de termos uma sala semivazia (ou meia-cheia, dependendo do ponto de vista)… é o único problema que faz com que Lisboa não esteja também no top 2 [risos].
Tendo sido a experiência tão positiva, há intenções de gravar um novo álbum ao vivo ou de trabalhar as músicas com uma roupagem diferente para um álbum em estúdio?
Isto foi gravado… nós fizemos apenas dois ensaios conjuntos, de Mão Morta & Remix. Fizemos ensaios só entre nós para nos adaptarmos às novas dinâmicas e marcações, mas em conjunto com a Remix apenas fizemos dois ensaios. Um para testar problemas a nível sonoro, nomeadamente porque a Remix não está habituada a tocar com amplificação e aqui foi obrigada a tocar com amplificação e monição, portanto obrigada a adaptar-se a um novo habitat sonoro, e tínhamos que ter alguma cautela para que o som amplificado dos Mão Morta não invadisse o espaço da Remix, impedindo os músicos da Remix de se ouvirem. E depois um ensaio para limar os pormenores, etc. Mas estava eu a dizer que foi gravado o primeiro concerto, no Theatro Circo, e foi gravado também este segundo ensaio. Portanto depende do que ficou gravado, mas em princípio as coisas estarão lá para serem editadas, essa hipótese está em cima da mesa.
Os Mão Morta de facto já disseram no passado que habitualmente não fazem muitos ensaios, e imagino que gostem de chegar ao palco e ver como é que corre, sendo cada concerto diferente.
Sim, gostamos, mas também não fazemos muitos ensaios porque os ensaios são caríssimos. Vivemos cada um no seu canto, ensaiamos em Braga e trazer toda a gente para Braga fica caro e limitamos isso ao mínimo. Também é verdade que há um lado de descoberta por termos tão poucos ensaios antes de tocarmos ao vivo que nos agrada muito e que nos pode levar a sítios que, normalmente, quando as coisas estão muito rotinadas, não acontece porque tendemos a reproduzir o que já sabemos de cor e salteado. Aqui as coisas sabem-se, mas há sempre uma espécie de adrenalina, de insegurança, de incerteza, que para nós é muito importante num espetáculo ao vivo.
Para terminar, tendo em conta que a experiência foi tão agradável, isso dá-vos vontade de se moverem nessa direção num próximo álbum de estúdio?
O “Nus”, por exemplo, já era um álbum mais orquestral e com cordas (estranhamente, desse álbum apenas tocámos um tema, nesta série de espetáculos com a Remix), por isso já tínhamos explorado essas sonoridades mais orquestradas, nesse sentido. Mas esta experiência com a Remix correu tão bem e adorámos tanto – não só nós mas os músicos da Remix, que estavam delirantes e ficaram com vontade de trabalhar mais com os Mão Morta – como agora os responsáveis da Casa da Música, face ao resultado que viram no espetáculo, no final disseram-nos que isto tem de ser repetido, portanto há uma vontade tanto da Remix, como da nossa parte, como da Casa da Música de explorar mais este caminho, seja retomando isto que fizemos, de alguma forma, seja explorando esta colaboração em originais, construindo obras de raiz para Mão Morta e Remix. São possibilidades em aberto, há essa vontade manifestada, vamos ver se se concretiza ou não.